Análise do viver! Entre semeaduras e colheitas…

Distinto do curioso caso de Benjamin Button, nossa vida surge em um pequeno corpo desprovido de autonomia para atender as necessidades mais básicas de um ser humano. Nos penduramos então, nossos braços e pernas nos adultos que nos cercam, que em algumas circunstâncias por ausência de conhecimento, ou mesmo de sabedoria, não nos suportam adequadamente. Suportar aqui, no sentido de sustentar, apoiar, orientar, proteger, intervir, intrometer mesmo!
Seguimos o viver engatinhando entre aprendizados e sustos, avanços e escorregões, quedas e saltos. Muitas vezes com uma perspectiva irreal da vida, distanciada dos fatos, tanto que, levariam Augusto Comte a uma síncope, pois foi ele quem discutiu e estabeleceu a necessidade do embasamento científico. Na impossibilidade diante, muitas vezes, da irresponsabilidade ou negligência, viver a partir da realidade dos fatos, já faria uma imensa diferença.
Nesse percurso, alcançamos a adolescência repleta de dramas, excessos, provas de identidade, confrontos, distanciamentos, perdas e desespero, além dos traumas e complexos, a semeadura ainda não iniciada, pois em meio a tantos fatores e eventos, a cabeça bate de cá para lá, e de lá para cá. É uma fase difícil que precisamos provar para alguém, que não sabemos quem, da nossa infinitude, força, sapiência, importância, capacidade de sedução, de fazer amigos ou ao menos de sobreviver em meio aos embates da família, que muitas vezes é um retrato de uma indelével desestruturação. Nesse ambiente nocivo à melhor estruturação das nossas construções e emoções, seguimos sem semear, estudando, mas ainda sem ter a verdadeira noção de como funcionam os Continentes, as civilizações, instituições, bem como as pessoas. Muito embora, tenhamos, nos dias atuais tendo acesso importante pelo Google à história da antiguidade, Idade Media, Era Moderna, e enfim, as histórias estão à disposição, Grécia com seus mitos e legado quanto a reflexão, estética e conquistas, Roma no processo de aculturação do sistema de crença religiosa de tantos povos, África e seus mistérios, o Japão e seu reflorescimento, após total destruição, a China suas tradições e mais de 55 etnias reconhecidas, os luteranos na construção dos Estados Unidos, enaltecendo o trabalho, as obras, o que resultou na conquista econômica, a Europa com tantas conquistas, perdas, dores e dissabores e tantos outros exemplos que nos podem fazer ao menos pensar ou supôr em como podemos aproveitar melhor tais experiências, aperfeiçoando nossa forma de perceber e nos posicionar diante do mundo. A semeadura se inicia, e quando menciono semeadura, penso em quando usamos todos os recursos, referências e modelos que tivemos contato até o momento presente para catapultar uma identidade o mais próximo da sua essência possível. E a colheita, por sua vez, será considerada na perspectiva da qualidade, excelente, a partir da forma que manejarmos tanto as sementes, quanto o cultivo das mesmas.
Na sequência se achega a juventude, quando pensamos sermos adultos. Envergamos então vestes de adultos, como aos quatro anos de idade nos divertindo com roupas dos pais ou avós. Que luta manter a máscara social de gente grande com emoções ainda tão incipientes, esmaecidas e instáveis. Nessa fase é muito provável que a semeadura ocorra com mais frequência, no entanto, as sementes podem ser ocas, quebradiças, passadas e nada ser suficientemente sólido para um bom e adequado cultivo. Num piscar de olhos, buuu, chega a tão temida adultez, com rostos sérios, contas e intermináveis compromissos que sequestram a vivacidade e alegria das almas humanas.
Veja bem, não é essa a minha verdade, a minha crença. Sempre achei a vida adulta bem interessante, apesar das responsabilidades serem de fato assustadoras. Mas nem sempre as pessoas tem essa percepção e justo na vida delas é que o fenômeno se concretiza, mais exatamente na metanoia, quando param e refletem sobre suas trajetórias e percebem que ela é uma grande farsa, vazia, nada consistente, interrompida, descontinuada, volátil.
Por isso é importante nos relacionarmos, na medida do possível com pessoas com discernimento sobre a vida e os movimentos por ela propostas. Essa colocação me remete ao que minha avó Alexandrina incansavelmente repetia: na sua sala de aula se aproxime e tenha amizades com gente que gosta de estudar, que olha as pessoas e não fala tanto. O que me garantia a paz que eu precisava para estudar.
Nós seres humanos, carecem de fato, para um melhor e mais adequado desenvolvimento psicoemocional, de um real suporte dos adultos que orbitam em torno dele. A paz, o espaço, a quietude, a condição real para pensar, estudar, treinar, errar, descobrir os motivos que os levaram ao erro são essenciais ao efetivo acerto e construção de um EU saudável. Dessa forma, em torno ou após o meio século de vida, a colheita poderá será propícia, pois investiu-se tempo, energia e aprofundamento nos temas que mereciam total atenção e persistência.

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