Mulher, quais teus dias?

Olho para minha imagem e busco cintura fina, mamas empinadas, coxas roliças, mais de um metro e sessenta e não encontro. Investigo se possuo uma capa ou braceletes com poderes, e não os enxergo. Pelo contrário,sinto compressão na dorsal, fruto de horas de estudo e trabalho, estrado unhas manicuradas por apreciar cozinhar para minha pequena família e sou incompetente para receber muitas pessoas. Me confundo por querer dar a mesma atenção a todas. O máximo que consigo é acolher para uma boa e magra mesa de café, pouquíssimas pessoas que considero amigas, leia-se, pessoas que participam de verdade da minha vida. O que significa o “de verdade”? Bem, são pessoas que conhecem com riqueza de detalhes as minhas dores da alma, as decepções que me fortalecem e as frustrações que me impulsionam para avançar.

Por outro lado, tenho inúmeros colegas, parcerias para trabalhos, conhecidos e clientes mais que queridos. Sou comum, como a maioria dos mortais “normais”, que aqui significa saber e aceitar a finitude. As minhas ações não se concretizam por intencionar ter ou ser exclusiva de nada nem de local ou pessoa alguma, mas para realizar meus sonhos que se tornam projetos onde estabeleço metas com prazos para que, uma a uma eu as concretize sem tomar ansiolíticos ou antidepressivos. Se já me frustrei? Nossa, perdi as vezes precisei recomeçar e colocar tijolo sobre tijolo ou destruir paredes internas do meu ser para enxergar melhor os equívocos/erros cometidos.

Ter um sistema reprodutor feminino me faz apenas ser mais cuidadosa para não pegar peso e sentar em lugares muito quentes, o que não retira a força da vida que carrego. Tenho a noção exata das minhas habilidades emocionais e sociais, do meu poder de articular, contribuindo para um tecido social saudável (palavras emprestadas da Angelita Scárdua na palestra Declínio da Mulher 07/03/2020 Espaço Nuvem Sublimação – VV). Sei da minha absurda atenção difusa e assertividade, então obviamente aplico mais adequadamente tais competências.

Quando nos conhecemos mais e as nossas verdadeiras intenções, nos tornamos seres humanos queridos ou rechaçados, agregadores ou ameaçadores, depende do seu interlocutor. Entretanto a questão aqui é ser mulher! Historicamente, e sempre defendo esse fato, fomos, somos e seremos exemplo, inspiração e referência. Não fosse assim, por qual motivo ser mulher na atualidade tornou-se alvo de muitas pessoas? Sentir como mulher, vestir-se como mulher, ser acolhido como mulher? Mas como ser mulher saudável, almejando ser e ter atributos de homem?

São muitas as questões que permeiam essa discussão, esse debate invisibilizado por séculos na humanidade, porém esta condição não é nova! Novo é a sociedade ser convidada a iluminar esse tema e de certa forma olhar nos olhos sem desviar destas questões. Ser ou não mulher nos remete a questões essenciais: nos aceitar, às nossas fragilidades e reconhecer nossa importância e responsabilidade histórica e por isso, visto bem esse traje, o de mulher. Por ser em essência, corpo e mente mulher, pude chorar todas as lágrimas das perdas que tive, pude sorrir todos os sorrisos dos meus sonhos realizados, desmaiar todas as minhas vultuosas frustrações, me encolher diante dos medos e recuar ao perceber quão significativos seriam os erros ensaiados, sejam escolhas ou decisões.

Que dia 8 de março, seja para você, o que representa o número 8 na horizontal: infinito, fluxo, equilíbrio.

Deixe um comentário