E a vida passa…

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A juventude é algo sensacional… Desonerados de limites somos e fazemos tudo sem muito pensar. A prioridade é sentir, refestelar-se nas emoções, paixões, tesões. Totalmente iletrados na maturidade (idade madura), somos verdes, duros, resistentes, sem risco de esfolamento ao cairmos.
E assim seguimos envolvendo, sorrindo, esnobando um corpo e sentimentos sem marcas, manchas e rusgas. A promessa faz parte da nossa vida: eu te amo, é para sempre, jamais farei isso ou aquilo, a direita enoja, a esquerda atrai e consome, brigamos por tudo, por todos, somos, na nossa individualidade, parte ativa da coletividade.
Isso tudo permanece até quase os nossos trinta anos…cérebro maduro, corpo delineado, tudo grita no nosso ser. O relógio biológico conta malemolentemente cada milésimo de segundo. E nós reinando absolutos desfilamos na passarela da vida muitas vezes instituídos de poder outras apenas do brilho do dinheiro e outras ainda com muita pose e nada de dinheiro tampouco poder. Até que uma fatalidade ou novidade de vida acontece, por exemplo, nascem os filhos e em ambas as circunstâncias surge o anseio de estender a nossa existência. A ansiedade se instala e constatamos que o tempo passa mais rápido que nossa percepção consegue notar. Socorro…faltam apenas dez anos para quarentar. Mais cuidado e às vezes a busca incessante de algum entendimento do que seja esse percurso chamado vida. Uma estrada repleta de curvas e a cada curva uma surpresa, um susto, um grito desvairado, uma torrente de lágrimas, ganhos e o que chamamos de perdas, que particularmente não vejo assim. Vejo que recebemos e precisamos deixar passar situações, posições, amizades, relações, titularidades, conquistas e angústias seguidas por vezes de fracassos que se tornam combustível, energia para novas conquistas. O “xis” da questão é que não queremos “deixar passar” e aí empreendemos lutas hercúleas para manter algo que precisa ser deixado, aquietado, acomodado em um canto, esquecido, assentado.
A maturidade dos 40 ainda não é a ideal, contudo traz uma condição muito interessante, mas que não é a leveza do ser como nomeou seu livro, Milan Kundera. O discernimento de saber o que não se quer mais. Nesse momento ganhamos força para recusar o que queremos deixar fora da nossa estrada particular, da nossa individualidade ou como relata no seu livro, Eduardo Carmello, sua singularidade.
Se aos trinta você viajava com amigos para lugares não tão amados para preservação da boa amizade, aos 40 você se robustece e agradece, sabendo que para aquele destino não há o que nem porque negociar. Escolhe, quando aguenta sua própria companhia, permanecer em casa, aquietado (a), sem rancor, angústias e temor. Não se perde. Pelo contrário, ganha-se identidade, respeito, espaço, vontade própria, alma, decisão.
Aos 50 a vida fica leve…Já rodamos 05 décadas, já vimos e revimos muitos temas, questões, situações. Modas repaginadas, escândalos reincidentes, quase novos, repaginados com outra coloração, dimensão, intensidade como, por exemplo, na passeata das vadias em São Paulo quem empunhava o microfone, defendendo a legalização do aborto não era do gênero feminino – mulher. Vi como espetacular a situação: quem não concebe, quem não gera, defendendo a legalização do aborto. Considero um ato de interesse da coletividade gênero mulher, independente de pertencer e ter equipamento ou não para conceber bebês. Ato altruísta diria.
Mas voltando aos 50…hummmm . Os 5.0 nada ansiado pela maioria que luta aliado aos bisturis, fórmulas, placebos, para preservar o viço da juventude. Desculpem-me, mas o que vejo são caricaturas distorcidas de jovens. A juventude é inigualável, incomparável, inimitável, tem identidade própria, estilo e sonoridade.
Aquietem-se almas, preparem-se para preparar as próximas gerações. O corpo já requer outro ritmo, outra forma de viver, de pisar, de ouvir e lamber os beiços. Aquietem-se almas que prometem amor eterno e chegando aos 5.0 evadem das suas promessas, acordos, em busca de sentirem-se jovens, sobretudo aqueles que tem dinheiro que acreditam piamente que abrindo suas carteiras, compram tudo que orbita ao seu redor, compram o indulto da juventude, do prazer da realização. Ledo engano!
Enquanto vocês bebem juventude, os jovens bebem vocês homens e mulheres de bem que creem. Cédulas de dinheiro não contêm nem 01 grama, muito menos valor de respeito, amor, cumplicidade, apoio e quentura em dias frios. Tão somente poderá constatar o valor monetário.
Aquietem-se almas, que buscam continuamente consertar o que a natureza trouxe desfigurado em forma de transtornos, síndromes, surtos, afastamento da realidade que seja. Isso não se compra, não se encontra nas prateleiras e vocês com todo dinheiro a disposição não pode comprar equilíbrio, lembranças, sensibilidade e muito menos amizades verdadeiras.
Na juventude prometemos tudo a todos. Aos cinquenta repaginamos: aquietamos ou obscurecemos nossas melhores lembranças em favor de aventuras rasas e supérfluas, emoções, conjurações, ilusões.
Aquietem-se idosos bebes, pois é para lá que vocês estão seguindo….para um upgrade da idade adulta.

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