Fazendo de conta…Ser adulto é para espertos, fortes ou apenas adultos?

Barbas espessas, paletó de bom corte, pernas cruzadas, gestos contundentes ou saltos altíssimos, roupas que dão um ar senhoril, qualquer estratégia vale a pena.

Lembro de que, aos 21 anos, quando dava meus primeiros passos em funções executivas nas empresas, envergava roupas diferentes da minha jovialidade, a escova era o melhor penteado, saltos altíssimos e claro, a moderação do sorriso para ser mais credível foram alternativas viáveis que de certa forma me tranquilizaram diante dos obstáculos que precisava ou acreditava ter que superar.

Essa questão nos captura, nos sequestra quando a partir da idade legal (18-21) precisamos fazer de conta que crescemos, sabemos com propriedade dos assuntos e compreendemos tudo o que nos dizem ou apresentam.

Afinal, o que é ser adulto, do que se compõe a adultez? Tutankamon, faraó menino do Egito aos 14 anos, foi o último faraó da 18 dinastia. Morre aos 19 anos. No curto período  de tempo que esteve à frente do reino, realizou grandes e importantes obras.

Tenho repetido nos relatos, palestras e aulas que a idade da virada é 25 anos, metade de 50 (meia idade). Ou você direciona sua vida ou desperdiça tempo mesmo. As pessoas frustradas costumam dizer que  “não era hora” quando algo não dá certo. Costumo pensar que não houve preparo adequado e a pessoa está em dissonância com a idade dela. São os famosos adultos infantis ou adolescentes que não apropriam sua energia adequadamente. De fato observação, atenção e foco são ingredientes indispensáveis na caminhada chamada vida.

Até os 30 anos, via de regra, algumas pessoas, vivem meio que no automático, sem dirigir sua vida.  Faz-se de conta que se controla o incontrolável: o meio, as modas, tendências o estabelecido e ponto.

Nesse furdunço de aspectos e dimensões, as verdades, inferências e fatos se avolumam, tomando conta das mentes que angustiadas se preocupam em cumprir um roteiro estabelecido.

Meio século nos faz compreender, com algumas exceções, é claro, parte do que seja essa coisa chamada VIDA, CENA, PERSONAGENS, CONTEXTO E DEIXAS.

Alguns exemplos na linha do tempo: o homem recebe o papel de provedor, responsável pela família e passível da vida pública; já a mulher rainha da vida privada, responsável pelo bem estar da sua família, pelo bom funcionamento da casa e orientação dos filhos e os idosos respeitados pela experiência que traziam nas suas histórias. Hoje as crianças exercem papéis de mini executivos, com agenda apertada, precisando ser mini adultos, se defendendo dos adultos sequelados que não dão conta das suas responsabilidades, enfim. Papéis estes que hoje são desconstruídos, desarticulados e delineados de forma diferente. O que gera desidentificação, ausência de lugar e onde projetar, se perguntam, os holofotes, em qual área da vida?

Nos dias atuais, acompanhamos crianças adultas, jovens anômalos, adultos infantis, idosos adolescentes em um exercício mórbido de ser. Postergar, antecipar, enfim parecer diferente do que não se é. Absoluta dissonância cronológica, emocional e física.

Limites, fronteiras intergeracionais se desfazem diante de nossos olhos. Será que nessa circunstância o jovem se vê semelhante aos adultos maduros ou vê adultos maduros semelhantes à eles?

Para se configurar a adultez torna-se insuficiente: os títulos, a marca do carro, celular, local de moradia, qual salão frequenta, que escolas estudou ou países estudou visitou, tampouco griffe da indumentária, menos ainda da linhagem a que pertence.

Há que se ter estrutura emocional para suportar de forma adequada as tensões, frustrações, embates típicos da transição menino (a) homem/mulher.

As doenças, transtornos, síndromes e distúrbios emocionais que reverberam nas atitudes, escolhas e decisões são parceiras do “faz de conta” a que muitos se submetem nas cenas de vida, playbacks, pinturas e fragmentos da sociedade que vão e vem, se alternam em um pedido agudo intermitente de SOCORRO.

O faz de conta na entidade criança é esperado, apropriado e essencial. O imaginário pede licença para se apresentar, existir e por fim, passar para nossa alma em forma de competências e musculatura para abstrações, frustrações, revisões e superações.  São os SE-NÕES de toda uma vida.

 

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