Faces da rejeição na contemporaneidade

Inúmeras definições podem ser apreciadas quando falamos em rejeição. Resumidamente esse processo enfatiza o posicionamento de resistência, negação ou recusa de uma pessoa por algo ou por outra pessoa. A incapacidade de aceitar ou tolerar manifesta-se, nessas ocasiões, claramente.

É uma experiência para muitos doída, latejante até. Para mim? Não, não é diferente, afinal sou um corpo físico e emocional. Um ser humano.

Buscando entender a rejeição, penso que seja uma escolha, por vezes complexa, em não desejar conhecer melhor o que nos incomoda, acelera, fragiliza ou obscurece, sobretudo nas situações de estabelecimentos de vínculos e investimentos nas relações.

O ambiente social delineou e determinou a forma ideal de nos relacionarmos, definiu a importância da família, da parentela, os limites sutis e os mais contundentes. E quando fugimos minimamente ao padrão estabelecido é uma explosão de likes ou unlikes.

A rejeição parece ser uma parente próxima do desconhecido. Digo isso pois apreciaria muito dizer que, conhecendo o objeto da rejeição e o motivo pelo qual se rejeita, a resistência prevaleça. No entanto, pude acompanhar algumas situações diversa dessa minha crença, onde, embora as pessoas conheçam e se saiba o motivo da rejeição (despeito, desconforto, vingança, pirraça, teimosia, sofrimento, saudade, ausência ou excesso de afeto, confronto), sabe-se lá o  que pode ser…

Todas as possibilidades podem ser reais, contudo tem um palpite que não se afasta da minha mente: que o protagonista da rejeição é absurdamente confrontado a algo que não consegue emocionalmente gerenciar pois explode, estraçalha cada fragmento da sua essência.

Ufaaa, pensando dessa forma, até sinto a dor do outro quando rasga impiedosamente sua essência em pedaços desencontrados. Dessa forma consigo compreender em absoluto o ato de rejeitar.

O rejeitado no entanto pode saber perfeitamente o motivo ou simplesmente desconhecer em absoluto o que leva o outro a agir dessa forma, embora essa questão não o impossibilite de respirar, pagar suas contas, beijar na boca, estudar, avançar na vida, enfim viver.

Decidi escrever sobre rejeição pois é uma experiência que conheci desde muito cedo, ainda na infância e dependendo de quem fosse o ator da rejeição, lembro como isso impactava no meu sentir. Asseguro que quanto mais representativa a pessoa, o afeto envolvido e o lugar que a pessoa ocupa em nossa existência, dói mais ou nada.

Mas dia a dia fui aprendendo que esse efeito somente conseguia um lugar se eu permitisse. Dessa forma pouco a pouco e à medida que amadurecia em idade e experiências, tirei de letra, gerenciei cada vez melhor os “chega para lá” que pessoas passantes em minha vida me concediam.

Confesso que foi muito mais fácil gerenciar quando a pessoa não tinha um lugar nobre na minha mente ou sentimentos.

E quando pessoas que amamos nos apagam da sua vida, sem no entanto deixar claro o motivo ou ao menos se dispôr a construir uma relação amistosa, próxima, cúmplice? Bem…não é fácil, mas é possível sobreviver, seguir o rumo.

Existe um grande risco por parte do rejeitado, o de decidir da mesma forma, apagar da sua vida quem o rejeita. Como deletar uma história possível de um dia acontecer. É uma escolha difícil mas nada impeditiva.

Nesses casos a ruptura é inevitável e poucas vezes passível de resgate. Cabe lembrar que, a não ser que sejamos, gêmeos univitelinos, nascemos sozinhos, autônomos, independentes e podemos seguir escolhendo com quem estabelecemos vínculos, vivemos em cumplicidade, próximos ou de quem tomamos distâncias.

Então…antes de resistir, ignorar, rejeitar explicitamente alguém, pense em outros momentos na sua vida e sobretudo, se você tem disposição e capacidade de superar as consequências que podem afetar sobremaneira a vida de pessoas que sejam mais suscetíveis.

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