Em fevereiro de 2015 elaborei um texto falando dos benefícios da juventude. Hoje primeiro de março de 2017, mas ainda, olhando para fevereiro quero refletir sobre a diferença do olhar do jovem e do maduro vivido diante dos eventos que se sucedem dia após dia em nossas vidas.
Tempos passados estava apresentando um tema em sala de aula e afirmei convicta diante da turma: pessoal não existe novidade. Tudo que se nos apresenta já existiu e nos é apresentado apenas repaginado, com nomenclatura diferente, as vezes de forma diferente, mas a verdade é que já existiu. Finalizei minha fala com inúmeros exemplos: brinco de pena, calça pescador, roupas tingidas, calça carpinteiro, design thinking, mamas menores, opulentas, cabelos compridos nos rapazes com franjão, entre outros.
Voltando para casa, no entanto, a cada curva, revisitava a imagem dos semblantes atônitos da turma e repensava minha afirmativa. Lembrei que a média da idade deles era em torno de vinte e cinco anos e alguns não tinham experimentado sequer sair do Estado, tampouco viajar de avião.
Empaticamente olhei com os olhos deles, mas ainda não tinha tido a humildade do insight que me levaria a escrever esse texto.
Na primeira semana de 2017, participando de uma palestra, novamente me peguei pensando no tema pois o expositor era um jovem indo na direção da terceira década da sua vida, olhos brilhantes, energia alta, falando de uma rica experiência vivenciada em outro país, especificamente em um lugar onde as novidades são paridas por gênios. Estudando as expressões faciais que brigavam para marcarem presença na face do expositor, lembrei de quando passava pela mesma fase de vida me sentia mulher maravilha (os novos procurem no Google, como diria Leandro Karnal nas suas palestras), senhora da informação mais importante de todos os tempos. Da mesma forma lembrei o olhar parcimonioso das pessoas maduras, reduzidamente fulgurosos diante da grande descoberta que eu, poder absoluto, havia feito.
Hoje encontro-me nesse lugar de olhar parcimonioso. Por esse motivo quero compartilhar algumas questões que para mim, foram iluminadas:
- Nós, os vividos devemos preservar o brilho nos olhos ou na medida do possível, deixar que o outro sinta-se iluminado, evitando enterrar a boa energia da novidade na vida dos jovens. Não importa o quanto tenhamos vivido e o quanto saibamos. A experiência da descoberta é e será sempre nova e ponto;
- O jovem diante de uma plateia mais madura pode, se assim desejar, cuidar para não agir de forma arrogante. Talvez considerar que a plateia sabe a informação de outra forma e que podem agregar à sua explanação seja uma atitude estratégica por isso, inteligente;
- Ainda que suas descobertas tenham ocorrido em outro países e culturas, lembrar que a web nos leva a qualquer lugar e saber. Assim sendo, sentir-se parte da Liga dos Heróis pode ser uma forte ilusão. Ainda que muitos não tenham viajado de avião, certamente muitos viajam na web para qualquer lugar e em direção a qualquer informação.
- Considerar que em 2017 anos de existência os continentes precisaram inventar e reinventar intermitentemente, sobretudo pós revolução industrial quando o consumismo passa a ser parceiro de caminhada de significativa parte da população mundial.
Dessa forma, a cada século as mamas diminuem, crescem; os cabelos alisam, encaracolam; as roupas sobem, descem; tornam-se escuras e claras – leves e densas – monocromáticas e estampadas; os acessórios variam de prateados a dourados; calçados rasteiros, crescem o salto que pode ser fino ou quadrado; os carros se apequenam e se agigantam não cabendo nas garagens, o que considero uma ausência absoluta entre montadoras e engenheiros e arquitetos que desenham projetos residenciais , as casas tornam-se clean ou rústicas e de fato, após tudo isso, duas conclusões me invadem a mente:
Grandes batalhas, motivos e objetivos que não sai das passarelas, não se torna ultrapassadas, perseverando com a mesma face século após século, são:
- Do ser humano ansiar no profundo do coração ser exclusivo, marcar sua existência e individualidade e;
- A autopreservação, a fim de garantir a própria sobrevivência bem como da sua parentela.
E que venha o novo Março, agora de 2017.