O relógio digital faz tic tac, apontando para 5 horas. Escrever, não escrever pensei em Renan Machado , fisioterapeuta no Pilates Studio, pilheriando.
Atrasei 45 min, iniciando minha saga na madrugada que tanto me representa.
A queda livre da chuva, molhando plantas, umedecendo e revigorando suas raízes; deixando no asfalto o efeito modelador de cachos e nas folhas das árvores gotas que remetem aos enfeites de Natal.
Ao longe os carros correm mais que sempre governados me parece, batendo de.frente e com vontade nas poças de água que se avolumam, não tanto quanto em Vila Velha onde aconteceram duas convenções de dois partidos políticos. Um querendo ficar para consolidar; outro querendo voltar alegando que a Saúde será prioridade. Certamente vai elevar Vila Velha do nível do mar, afetando a qualidade da saúde.
Ao longe som de vozes e palavras indistintas. Encaro a brisa gélida da madrugada, me surpreendendo com minha coragem. Puxo o edredom para o lado e abro a janela. Penso nos tantos sem teto, sem cobertor, sem cama e reflito sem assistencialismo todavia com absoluto realismo sobre SE o volume de impostos devolvidos ao Estado fossem aplicados de forma devida não teríamos já mitigado está questão básica? O IPTU é proporcional portanto, a construção e garantia do teto ainda que fossem os ditos populares funcionais a partir do que se recolhe dos chamados bairros “nobres” seria a médio e longo prazo, possível. Estou em Vitória há 16 anos. Um tempo razoável para objetivar, planejar e realizar.
Sou cidadã capixaba ainda sem certificado, mas sou e o gélido do frio não poupa a derme exposta levando-me a pensar na dor dos tantos que sentem a impossibilidade da proteção ainda que básica.
A luz chega lentamente, seus passos são curtos, inicia seu trabalho de tirar os lençóis que cobrem o dia. Vai dando forma e identidade ao que antes era breu, salvo o que estava próximo das luzes dos postes.
Olho para um lado vejo a moradia de Priscilla Thompson com sobrenome de um autor inglês importante na area da história oral enquanto forma de expressão; vejo também a varanda do José Venâncio, sujeito que exala inteligência e a paz de alma. Uma, cachoeirense da capital secreta e outro linharense, terra da escritora Josmari ou vovó Malico.
Do outro lado grandes e curiosos, os dois olhos de Maruipe tentando ver no meio a chuva que neste momento se adensa, avisando que o domingo pode ser em pijamas e caldos.
Os filmes, pipocas, livros, fotos antigas certamente hoje terão destinação diferentes dos dias ensolarados.
Vou fechar os olhos, me deliciar com a sinfonia da chuva, esperando o dia virar criança uma vez que na tentativa.de tornar-se adulto o breu da noite vem e o engole. Perto o alarme do carro grita. Não, não é assalto! Mas um café já já terá seu lugar.