Hoje precisei retirar um coração do lugar. Ele chorava compulsivamente Um choro de profunda dor, de soluços profundos e cortantes na alma.
Ainda cedo esperançoso de superar mais um desafio, vencer fronteiras, aprender no que podia e devia melhorar.
Apresentou o que precisava e se colocou a disposição para ouvir. Atentamente registrou cada palavra que entrava pelo seu sistema auditivo. Algumas com profundo sentido, outras um burilar da superficialidade, raso mesmo, palavras umas ordenadas com absoluto sentido, outras desordenadas…sem sentido algum.
Suspense…o coração esperava em suspense. Ao ser chamado para compartilhar a leitura final, apertou-se pelos cantos daquele peito e ouviu as palavras cortando-o em fatias, moendo na máquina, batendo o martelo que ao invés de amolecer, retesou suas reentrâncias.
Silêncio longo, os pensamentos fugiram da mente que vazia ecoava o silêncio da morte, do fim, o sangue não menos despudorado foge e se esconde tão bem que empalidece a pele, revelando o estado cadavérico do coração, o pulso para de latir e geme, fazendo desfalecer o corpo que o hospedava, a visão cega, jogava-se no ar não sabendo onde chegaria.
Repentinamente como num ato de misericórdia, muitos braços, curtos, longos enlaçaram o corpo, impedindo a queda no nada. Amparado o coração soluçava a princípio tímido e numa crescente ampliando a sonoridade do seu soluçar até alcançar o profundo do todo.
Coração buscava compreensão da situação, processamento das informações e voltava ao ponto de partida. Lembrou de imagens do percurso e não via motivos concretos para o desfecho, mas estava certo de que precisaria primeiro de tudo resistir, sobreviver. Como? Não sabe ainda, mas vai ser preciso costurar seus pedaços, abotoar sentimentos, congelar emoções e seguir.
Hoje o ritmo desacelerado, quase parado, modo econômico…vagueia, andando em voltas em si mesmo não sabe o que fazer, pensar, sentir.
Silencio no recinto, nem se consegue escutar o tão conhecido tum tum do coração. Uma lágrima de granizo rola dos olhos do coração.