Conhecida pela forma “dura” de ser. Por inúmeras vezes fui e ainda sou percebida como pessoa “dura”. De fato, mais jovem, minha expressão era cortante. Não media e nem pesava o peso das minhas expressões, palavras ou atitudes. No senso comum esta conduta representava a não preocupação com o sentimento alheio. Nos dias atuais, considero precisa, firme, resolutiva.
As palavras saiam do meu cérebro para o ambiente sem filtro algum. Eram lançadas frente ao susto e indignação de quem as ouvia. Sou fruto da geração que professor respeitava mas exigia dos seus alunos a fazerem sempre melhor, que tirar notas boas eram minha obrigação; acordar cedo, arrumar cama, lavar pratos, varrer casa, tirar teias de aranha dos cantos dos cômodos, lavar banheiro, lavar roupas, além de ser educada, gentil e prestativa com os mais velhos eram atos considerados naturais de se exigir de todo e qualquer jovem.
Me pergunto, quem não sobreviveu a essa condição? Na contemporaneidade observo absorta, a comunicação ao alcance da ponta dos dedos e ainda assim jovens perdidos sem saber qual a direção tomar nas suas vidas; a liberdade de assimilar a orientação de gênero e concomitante um imenso sofrimento para apreender no seu cotidiano tal orientação; a liberdade de se desonerar de uniformes e tudo que ponha em risco sua singularidade e ainda assim a obsessiva busca em seguir padrões estabelecidos pelas suas tribos e ainda por outras culturas…
Vendo a vida por meio de uma lente de celular é a forma mais contemporânea de contemplar o entorno. Interessante, chocante e assustador. Este é um ensaio brutal para vivermos sem conexão com nossa essência. E estamos indo bem. Correspondendo satisfatoriamente a quem possa interessar.
Em pleno século XXI, no Brasil, palco de tantas lutas, sofrimentos, opressão, jugo além de sucessivos roubos contra a Nação, não podemos, sob pena de forte acusação sermos precisos, objetivos e diretos. Uma frase precisa vir recheada de poréns, contudos, entretantos para não ofender, matar a alma e desestruturar o interlocutor, seja nas famílias, grupos de trabalhos acadêmicos ou mesmos nas empresas que desejam faturar mais de 90 milhões.
Imaginem quão paradoxal é, viver combativamemente em busca de resultados e ao mesmo tempo docilmente para não ofender, mesmo que seja com sua alegria e realizações, o outro que não consegue sair do lugar?
Que geração é essa que não aguenta ouvir o detalhamento das ações que protagonizou, muitas delas, de uma incrível miopia, falta de leitura do contexto, ausência de discernimento e infantilismo?
Em treinamentos e palestras que realizo, destaco a importância de nos apropriarmos dos fatos, fazendo uma leitura precisa do ocorrido além de “malhar – fortalecer” nossas respostas emocionais e reagir de acordo com nossa idade cronológica que deve, na pior das hipóteses, concordar com nossa idade emocional e situação funcional.
À criança e ao idoso é compreensível e até permitido desorientação, ausência de foco e equilíbrio, pavor de ficar sozinho e o sentimento de incapacidade para realizar grandes façanhas, pela condição física, mental e as vezes financeira, e ainda assim, eles nos surpreendem e realizam continuamente, Se superam mesmo.
Os adolescentes de hoje chegam a alcançar a quarta década de suas vidas, preservando esta condição e para alcançarem a condição de adultos nadam, nadam e literalmente bóiam, desperiodizados da sua cronologia.
Geração papel por se rasgarem frente a qualquer obstáculo ou vento mais forte e geração botox por terem a capacidade de imprimirem nas suas faces o sorriso mais primoroso, mesmo frente a eventos tristes, nocivos, para posts nas redes sociais.
Verdade ou mentira; fato ou inferência; confronto ou recuo; feedback ou dissimulaback? Como entender qual ferramenta usar, quando e com quem? Observar é condição sinequanon para termos estas respostas.
Perceber se o adulto é adulto e fortificado para o que a vida apresenta requer olhar e silêncio. Estou convicta de que a verdade dá menos trabalho, a resolutividade é menos desgastante que jogos, articulações e construções ilusórias ou mesmo a projeção das responsabilidades por mazelas e desencontros no outro.
Assumir o que se faz de aceitável ou não é libertador. Aprovações e reprovações, amores e desamores, harmonia e distanciamento depende de cada um de nós ou um consenso entre as partes que se querem manter apartadas.
É assim, simples. Duro ouvir, pois é o fato. É bem confortável, dizer que não aconteceu pois não era para acontecer. No entanto, ao fazermos uma acurada análise, podemos notar, se desejarmos, o que faltou, no que não caprichamos ou investimos de forma adequada.
Ótima reflexão!