Faces da rejeição na contemporaneidade

Inúmeras definições podem ser apreciadas quando falamos em rejeição. Resumidamente esse processo enfatiza o posicionamento de resistência, negação ou recusa de uma pessoa por algo ou por outra pessoa. A incapacidade de aceitar ou tolerar manifesta-se, nessas ocasiões, claramente.

É uma experiência para muitos doída, latejante até. Para mim? Não, não é diferente, afinal sou um corpo físico e emocional. Um ser humano.

Buscando entender a rejeição, penso que seja uma escolha, por vezes complexa, em não desejar conhecer melhor o que nos incomoda, acelera, fragiliza ou obscurece, sobretudo nas situações de estabelecimentos de vínculos e investimentos nas relações.

O ambiente social delineou e determinou a forma ideal de nos relacionarmos, definiu a importância da família, da parentela, os limites sutis e os mais contundentes. E quando fugimos minimamente ao padrão estabelecido é uma explosão de likes ou unlikes.

A rejeição parece ser uma parente próxima do desconhecido. Digo isso pois apreciaria muito dizer que, conhecendo o objeto da rejeição e o motivo pelo qual se rejeita, a resistência prevaleça. No entanto, pude acompanhar algumas situações diversa dessa minha crença, onde, embora as pessoas conheçam e se saiba o motivo da rejeição (despeito, desconforto, vingança, pirraça, teimosia, sofrimento, saudade, ausência ou excesso de afeto, confronto), sabe-se lá o  que pode ser…

Todas as possibilidades podem ser reais, contudo tem um palpite que não se afasta da minha mente: que o protagonista da rejeição é absurdamente confrontado a algo que não consegue emocionalmente gerenciar pois explode, estraçalha cada fragmento da sua essência.

Ufaaa, pensando dessa forma, até sinto a dor do outro quando rasga impiedosamente sua essência em pedaços desencontrados. Dessa forma consigo compreender em absoluto o ato de rejeitar.

O rejeitado no entanto pode saber perfeitamente o motivo ou simplesmente desconhecer em absoluto o que leva o outro a agir dessa forma, embora essa questão não o impossibilite de respirar, pagar suas contas, beijar na boca, estudar, avançar na vida, enfim viver.

Decidi escrever sobre rejeição pois é uma experiência que conheci desde muito cedo, ainda na infância e dependendo de quem fosse o ator da rejeição, lembro como isso impactava no meu sentir. Asseguro que quanto mais representativa a pessoa, o afeto envolvido e o lugar que a pessoa ocupa em nossa existência, dói mais ou nada.

Mas dia a dia fui aprendendo que esse efeito somente conseguia um lugar se eu permitisse. Dessa forma pouco a pouco e à medida que amadurecia em idade e experiências, tirei de letra, gerenciei cada vez melhor os “chega para lá” que pessoas passantes em minha vida me concediam.

Confesso que foi muito mais fácil gerenciar quando a pessoa não tinha um lugar nobre na minha mente ou sentimentos.

E quando pessoas que amamos nos apagam da sua vida, sem no entanto deixar claro o motivo ou ao menos se dispôr a construir uma relação amistosa, próxima, cúmplice? Bem…não é fácil, mas é possível sobreviver, seguir o rumo.

Existe um grande risco por parte do rejeitado, o de decidir da mesma forma, apagar da sua vida quem o rejeita. Como deletar uma história possível de um dia acontecer. É uma escolha difícil mas nada impeditiva.

Nesses casos a ruptura é inevitável e poucas vezes passível de resgate. Cabe lembrar que, a não ser que sejamos, gêmeos univitelinos, nascemos sozinhos, autônomos, independentes e podemos seguir escolhendo com quem estabelecemos vínculos, vivemos em cumplicidade, próximos ou de quem tomamos distâncias.

Então…antes de resistir, ignorar, rejeitar explicitamente alguém, pense em outros momentos na sua vida e sobretudo, se você tem disposição e capacidade de superar as consequências que podem afetar sobremaneira a vida de pessoas que sejam mais suscetíveis.

Sonhar de olhos abertos. Uma condição privilegiada de todos nós!

São dias e dias vivendo. Olhando o que está fora e dentro de mim. Sinto o pulsar do coração, o frio na barriga como se a adolescência voltasse a morar no meu ser. Mas já não sou adolescente. Sou grisalha, tenho décadas de acertos,  e erros, sucessos e fracassos, sorrisos e lágrimas, avanços e retrocessos. É bom esse negócio chamado vida, por isso talvez tenhamos um frenético temor de passar a outra condição que nem sabemos qual será…

Recebi essa foto da lua e ela me remeteu a uma reflexão: Vista assim do alto, ela testemunha, assim como o sol, nossos passos, compassos e descompassos nessa estrada onde tantos passam por nós, permanecem por um tempo e seguem ao lado ou distante de nossas vidas.

Me vejo dentro de um trem que me leva ao monte chamado decisão, mudança de rumo, retomada do sonho acalentado desde a juventude e hoje a diferença é a responsabilidade, o cuidado, a atenção dispensada ao sentimento alheio, o carinho e respeito.

A vida é um jardim de girassóis, lindo, lindo…e daqui sinto a suave brisa acariciar meu rosto que por um mero acaso contrasta com o grisalho do meu cabelo por ainda não revelar claramente e tacitamente a idade que trago na alma.

Fé, saúde, o eterno namoro com a profissão, os desafios, os convites, as propostas, o silêncio, as oportunidades, a vontade, a preguiça, os filmes e livros, faces de uma vida enriquecida com outras vidas que passam, alegram, irritam, fadigam e nos provocam a sair do lugar.

Viver…poder olhar a lua, o sol, nadar, sonhar, planejar e concretizar. É possível em qualquer tempo, idade e condição. Por vezes rápido, outras mais lentificado por precisarmos aguardar o tempo que não é seu, a vida que não é sua, a vontade que não lhe cabe.

Integridade…meu maior desafio, minha melhor condição. Inteira, comigo mesma. A isso chamo viver, olhar a lua sem vergonha ou constrangimento de não ser aquilo que não se quer ser.

Crônica Gaiola Dourada

Gerenciar = Questionar

Inspire, expire, sente, levante, sorria, chore, acorde, durma, ande, corra, caminhe, mas faça tudo, sabendo o que está e o motivo de estar fazendo. Viva em contato consigo.

Tudo o que ela havia sonhado ter na infância tinha extrapolado muito na sua adultez. Alta, delgada, ruiva, cabelos brilhantes, longos, cheio, sorriso largo estampado na face de boca carmim, cílios longos e olhos da cor do mar. _ Aqui paro me perguntando: Qual a cor do mar?

Respondo mentalmente: Depende. O dia dela, da Alva, esse era o seu nome, iniciava e lá estava seu amado  com um belo sorriso estampado no rosto. Alinda, sua secretária particular equilibrava uma bandeja   com delícias (suco de amora, dois crepes e um pequeno pedaço de queijo branco).

O aroma de café perfumava todo o ambiente do quarto. Alba faceira, espreguiçava-se, saboreava a companhia do amado, do saboroso café e o tempo que brincava nos ponteiros do relógio.

Todas as viagens, compras, lazer, estudos, patrimônio, todos os percursos a fazer o amado de Alva decidia e ela o acompanhava sem titubear. Passadas décadas e décadas Alva caminhava sozinha no parque pois o amado viajara; Curiosa sentiu desejo de adentrar em uma área cada vez mais e mais arborizada até que não sabia mais o caminho de volta.

Crendo que a buscariam, Alva sentou-se pondo-se a esperar. Escureceu e Alva apavorada encolheu-se toda, chorando copiosamente. Não tinha a menor ideia do que fazer.

Esgotada adormeceu e sonhou que estava correndo no bairro onde morava de pés descalços, cabelos esvoaçando, rodopiando com outras crianças.

Acordou sentindo-se diferente. Olhou ao redor prescrutando o entorno e viu que próximo tinha um pé de uma frutinha vermelha arroxeada. Diante da fome, não avaliou se seria ou não nociva. Levou-a a boca. Fechou os olhos esperando o resultado. Sentiu o sabor do suco que Alinda trazia todas as manhãs e desejou ficar ali por mais  um tempo.

Levantou-se e após 30 minutos de caminhada, encontrou uma casa. Tocou uma campainha, aguardou e percebeu que as vozes eram de um casal de idosos que se batiam de um lado para o outro para chegarem à porta.

Ao abrirem notou que a casa estava uma desorganização só e Alva desconhecia todo e qualquer processo ou procedimento para organizar coisas ou seja lá o que fosse. Assustada pensava no que fazer para resolver ou mesmo amenizar a confusão daquela casa.

Acompanhou por mais de vinte minutos o casal falando, gesticulando, se movimentando vagarosamente entre a sala, cozinha e varanda.  O tempo passou e ela queria muito, mas não entendia o que acontecia naquele lugar. No entanto, percebeu uma forma de viver diferente. Ele vestuário pastel e suspensórios queria chá, ela vestido colorido pedia um café;

As canecas eram todas diferentes, a pia estava cheia de pratos, a mesa com pães diversos, os pássaros petiscavam os grãozinhos espalhados. De repente ela parou, se desconectou e fixou seu olhar na lua que adentrava pela janela e lembrou-se de como sua vida era toda organizada, cronometrada, odorizada, previsível e o mais chocante!!! Que nada do que fazia parte do seu querer, da sua vontade estava presente.

Lágrimas rolaram dos seus olhos grandes da cor do mar, quando se deu conta naquele momento que sequer sabia voltar para a “sua casa – um lugar onde vivia alijada da realidade do mundo, de outras realidades ao menos” onde vivia desde quando se unira ao seu amado.

Era muito jovem quando conheceu “seu príncipe encantado” que a todo momento a protegia, amava, cuidava, orientava nas menores e maiores situações. A medida que o tempo passava já não conhecia qual era a sua vontade, o seu querer. Não sabia o que a divertia, o que a encantava e pouco a pouco sua essência adormeceu, permanecendo anestesiada até aquele momento. Esqueceu por todo esse tempo quem era, do que gostava e até do que queria.

Nesse Movimento piscou os olhos e viu que o casal estava parado diante dela, gesticulando e falando: acorda, acorda!!!  Volta para sua casa ou nos ajude. Não fique aí parada como uma estátua.

Alva precisava ocupar um lugar, tomar uma atitude para não se tornar um peso na vida do casal de idosos. Respondeu ok, ok, vou começar fazendo um chá e um café para que me contem como vieram parar aqui….

Sentaram e saborearam o sabor das bebidas que Alva preparara e com uma careta ambos murmuraram…ughhh que sabor estranho….Alva lembrou que não sabia a medida certa para as bebidas, deduzindo que tinha errado.

Mas…iniciaram a conversa e o casal relatou que chegaram ali depois de brigar com toda a família e para garantirem dias dignos nesse fim de trajetória nas suas vidas pois todos queriam determinar o que eles deviam ou não fazer.

Alva surpreendida pela decisão, determinação e ousadia do casal de dispensarem uma vida mais comoda e segura apenas para garantirem a prevalência da sua vontade. O casal explica que é extremamente importante resguardar a identidade enquanto se está no modo vivo, existindo.

Após algumas perguntas perceberam que Alva em nada dirigia a vida dela. Tudo que fazia era para, poe e com alguém.  Não encontrava sentido na vida dela. Os sonhos eram vários mas completamente desconectados, respirava e se realizava por meio de outras vidas. Vivia um vazio existencial.

O casal desenhou um plano para que  Alva encontrasse sentido na vida, iniciando por uma prática simples. Em uma mesa dia a dia ofertava a Alva livros, assuntos, sabores, odores e verificavam pacientemente o que ela apreciava, rejeitava ou exultava à medida que experimentava. Nas noites contavam histórias e ouviam histórias, ensinando a Alva a falar na primeira pessoa do singular (EU) pois quando ela falava parecia uma Artigo acadêmico, sempre na primeira pessoa do plural (NÓS).

E assim foi por um largo tempo. Alva esquecera da urgência de voltar para uma vida que não sabia ser dela, mas um dia ao acordar notou um movimento estranho e deparou-se com uma ambulância e profissionais de resgate. Olhava aturdida para todos os lados e tudo encontrava-se arrumado como deixara à noite. Não viu o casal. Perguntou aos prantos o que havia acontecido.

Os profissionais informaram que um casal de idosos informara que havia ali uma pessoa que precisava ser resgatada pois estava pronta para viver fora daquela casa. Alva entendeu que a pessoa era ela e que estava na hora de voltar, tendo sua vida nas suas mãos como aprendera no período que permaneceu com o casal: decidindo, escolhendo, refletindo e respeitando seu ritmo e estilo.

 

 

Visão do jovem e da pessoa madura diante da NOV-IDADE…

Em fevereiro de 2015 elaborei um texto falando dos benefícios da juventude. Hoje primeiro de março de 2017, mas ainda, olhando para fevereiro quero refletir sobre a diferença do olhar do jovem e do maduro vivido diante dos eventos que se sucedem dia após dia em nossas vidas.

Tempos passados estava apresentando um tema em sala de aula e afirmei convicta diante da turma: pessoal não existe novidade. Tudo que se nos apresenta já existiu e nos é apresentado apenas repaginado, com nomenclatura diferente, as vezes de forma diferente, mas a verdade é que já existiu. Finalizei minha fala com inúmeros exemplos: brinco de pena, calça pescador, roupas tingidas, calça carpinteiro, design thinking, mamas menores, opulentas, cabelos compridos nos rapazes com franjão, entre outros.

Voltando para casa, no entanto, a cada curva, revisitava a imagem dos semblantes atônitos da turma e repensava minha afirmativa. Lembrei que a média da idade deles era em torno de vinte e cinco anos e alguns não tinham experimentado sequer sair do Estado, tampouco viajar de avião.

Empaticamente olhei com os olhos deles, mas ainda não tinha tido a humildade do insight que me levaria a escrever esse texto.

Na primeira semana de 2017, participando de uma palestra, novamente me peguei pensando no tema pois o expositor era um jovem indo na direção da terceira década da sua vida, olhos brilhantes, energia alta, falando de uma rica experiência vivenciada em outro país, especificamente em um lugar onde as novidades são paridas por gênios. Estudando as expressões faciais que brigavam para marcarem presença na face do expositor, lembrei de quando passava pela mesma fase de vida me sentia mulher maravilha (os novos procurem no Google, como diria Leandro Karnal nas suas palestras), senhora da informação mais importante de todos os tempos. Da mesma forma lembrei o olhar parcimonioso das pessoas maduras, reduzidamente fulgurosos diante da grande descoberta que eu, poder absoluto, havia feito.

Hoje encontro-me nesse lugar de olhar parcimonioso. Por esse motivo quero compartilhar algumas questões que para mim, foram iluminadas:

  • Nós, os vividos devemos preservar o brilho nos olhos ou na medida do possível, deixar que o outro sinta-se iluminado, evitando enterrar a boa energia da novidade na vida dos jovens. Não importa o quanto tenhamos vivido e o quanto saibamos. A experiência da descoberta é e será sempre nova e ponto;
  • O jovem diante de uma plateia mais madura pode, se assim desejar, cuidar para não agir de forma arrogante. Talvez considerar que a plateia sabe a informação de outra forma e que podem agregar à sua explanação seja uma atitude estratégica por isso, inteligente;
  • Ainda que suas descobertas tenham ocorrido em outro países e culturas, lembrar que a web nos leva a qualquer lugar e saber. Assim sendo, sentir-se parte da Liga dos Heróis pode ser uma forte ilusão. Ainda que muitos não tenham viajado de avião, certamente muitos viajam na web para qualquer lugar e em direção a qualquer informação.
  • Considerar que em 2017 anos de existência os continentes precisaram inventar e reinventar intermitentemente, sobretudo pós revolução industrial quando o consumismo passa a ser parceiro de caminhada de significativa parte da população mundial.

 

Dessa forma, a cada século as mamas diminuem, crescem; os cabelos alisam, encaracolam; as roupas sobem, descem; tornam-se escuras e claras – leves e densas – monocromáticas e estampadas; os acessórios variam de prateados a dourados; calçados rasteiros, crescem o salto que pode ser fino ou quadrado; os carros se apequenam e se agigantam não cabendo nas garagens, o que considero uma ausência absoluta entre montadoras e engenheiros e arquitetos que desenham projetos residenciais , as casas tornam-se clean ou rústicas e de fato, após tudo isso, duas conclusões me invadem a mente:

Grandes batalhas, motivos e objetivos que não sai das passarelas, não se torna ultrapassadas, perseverando com a mesma face século após século, são:

  1. Do ser humano ansiar no profundo do coração ser exclusivo, marcar sua existência e individualidade e;
  2. A autopreservação, a fim de garantir a própria sobrevivência bem como da sua parentela.

E que venha o novo Março, agora de 2017.

2017 o ciclo mais jovem de todos os tempos…

Dia 09 de janeiro. Após um ano sem nada postar por conta do tempo dedicado a um projeto de brutal importância para minha vida, retomo a esse que considero um caminho de aprendizado. Quando escrevo, penso em quem irá ler e essa possibilidade é desafiadora, acompanhada de indagações simples, complexas e insuperáveis. Em 2016 aprendi que meu limite é maior do que imaginava; aprendi que meus medos saíram para passear e não estão sentindo falta de casa; que a dor da perda do que você não tinha, passa igual as outras dores. Que as pessoas nos avaliam pelo que elas são. Se são íntegras julgam que jamais as enganaremos, no entanto, se são obscuras nos atribuem sua obscuridade. Aprendi que a peçonha é igual a mastruz: alivia aferroando. Conheci pessoas adoráveis, de olhar azul límpido, de caráter rijo e transparente, de sorriso doce e capacidade cooperativa inimaginável. Conheci adultos com alma de crianças sorridentes. Acumulei horas de vôo, milhas no Multiplus que ainda não usei. Mas vou usar. Em 2016 venci fronteiras que se agigantaram diante de mim aos 9 de dezembro de 2014. Superei, descansei da luta e agora me preparo para mais batalhas. A batalha do constantemente estudar idioma; a batalha da balança; a batalha do avanço na Academia. Me despedi também em 2016. De grupos, de Associações, de lugares de pessoas. A despedida maior foi a do meu tio querido que foi referência na minha criação a quem carinhosamente tratava de pai do coração. Um sujeito silenciosamente carinhoso, cuidador e severamente correto. Um beijo a sua memória meu amado tio. Recebi na minha casa pessoas alegres e dispostas. Tias a quem dedico muito respeito carinho. Descobri. Me descobri mais misericordiosa, mais atenta ao meu entorno e me peguei muitas vezes justificando o comportamento alheio. Aprendi que sei fazer sopas e saladas diferentes. Que escrevo de forma dramática, enfática. Me diverti, gargalhei e pouco fui a praia. Visitei pouco as pessoas que estimo. Mas a noite de Natal foi especial e a noite da virada do ano uma bela promessa de quietude. Descobri (já faz algum tempo) como é bom viver em silêncio, ler muito, caminhar sempre e sorrir, um sorriso pequeno, desavantajado, que sai da alma. Encontrei, reencontrei parcerias de trabalho. Fui presenteada com belíssimos projetos em belíssimas empresas onde por meio das pessoas alcançamos resultados diferenciados. Como sabem, escolhi acreditar em Deus e além de agradecer a você que certamente faz parte (de alguma forma) da minha vida, dispenso minha gratidão a Deus que manejou para que tudo acontecesse. Enfim, mesmo diante de lágrimas o que mais enxerguei foram sorrisos e superações. Que venha 2017.

Madrugando

O relógio digital faz tic tac, apontando para 5 horas. Escrever, não escrever pensei em Renan Machado , fisioterapeuta no Pilates Studio, pilheriando.
Atrasei 45 min, iniciando minha saga na madrugada que tanto me representa.
A queda livre da chuva, molhando plantas, umedecendo e revigorando suas raízes; deixando no asfalto o efeito modelador de cachos e nas folhas das árvores gotas que remetem aos enfeites de Natal.
Ao longe os carros correm mais que sempre governados me parece, batendo de.frente e com vontade nas poças de água que se avolumam, não tanto quanto em Vila Velha onde aconteceram duas convenções de dois partidos políticos. Um querendo ficar para consolidar; outro querendo voltar alegando que a Saúde será prioridade. Certamente vai elevar Vila Velha do nível do mar, afetando a qualidade da saúde.
Ao longe som de vozes e palavras indistintas. Encaro a brisa gélida da madrugada, me surpreendendo com minha coragem. Puxo o edredom para o lado e abro a janela. Penso nos tantos sem teto, sem cobertor, sem cama e reflito sem assistencialismo todavia com absoluto realismo sobre SE o volume de impostos devolvidos ao Estado fossem aplicados de forma devida não teríamos já mitigado está questão básica? O IPTU é proporcional portanto, a construção e garantia do teto ainda que fossem os ditos populares funcionais a partir do que se recolhe dos chamados bairros “nobres” seria a médio e longo prazo, possível. Estou em Vitória há 16 anos. Um tempo razoável para objetivar, planejar e realizar.
Sou cidadã capixaba ainda sem certificado, mas sou e o gélido do frio não poupa a derme exposta levando-me a pensar na dor dos tantos que sentem a impossibilidade da proteção ainda que básica.
A luz chega lentamente, seus passos são curtos, inicia seu trabalho de tirar os lençóis que cobrem o dia. Vai dando forma e identidade ao que antes era breu, salvo o que estava próximo das luzes dos postes.
Olho para um lado vejo a moradia de Priscilla Thompson com sobrenome de um autor inglês importante na area da história oral enquanto forma de expressão; vejo também a varanda do José Venâncio, sujeito que exala inteligência e a paz de alma. Uma, cachoeirense da capital secreta e outro linharense, terra da escritora Josmari ou vovó Malico.
Do outro lado grandes e curiosos, os dois olhos de Maruipe tentando ver no meio a chuva que neste momento se adensa, avisando que o domingo pode ser em pijamas e caldos.
Os filmes, pipocas, livros, fotos antigas certamente hoje terão destinação diferentes dos dias ensolarados.
Vou fechar os olhos, me deliciar com a sinfonia da chuva, esperando o dia virar criança uma vez que na tentativa.de tornar-se adulto o breu da noite vem e o engole. Perto o alarme do carro grita. Não, não é assalto! Mas um café já já terá seu lugar.

E a vida passa…

20150603_083723

A juventude é algo sensacional… Desonerados de limites somos e fazemos tudo sem muito pensar. A prioridade é sentir, refestelar-se nas emoções, paixões, tesões. Totalmente iletrados na maturidade (idade madura), somos verdes, duros, resistentes, sem risco de esfolamento ao cairmos.
E assim seguimos envolvendo, sorrindo, esnobando um corpo e sentimentos sem marcas, manchas e rusgas. A promessa faz parte da nossa vida: eu te amo, é para sempre, jamais farei isso ou aquilo, a direita enoja, a esquerda atrai e consome, brigamos por tudo, por todos, somos, na nossa individualidade, parte ativa da coletividade.
Isso tudo permanece até quase os nossos trinta anos…cérebro maduro, corpo delineado, tudo grita no nosso ser. O relógio biológico conta malemolentemente cada milésimo de segundo. E nós reinando absolutos desfilamos na passarela da vida muitas vezes instituídos de poder outras apenas do brilho do dinheiro e outras ainda com muita pose e nada de dinheiro tampouco poder. Até que uma fatalidade ou novidade de vida acontece, por exemplo, nascem os filhos e em ambas as circunstâncias surge o anseio de estender a nossa existência. A ansiedade se instala e constatamos que o tempo passa mais rápido que nossa percepção consegue notar. Socorro…faltam apenas dez anos para quarentar. Mais cuidado e às vezes a busca incessante de algum entendimento do que seja esse percurso chamado vida. Uma estrada repleta de curvas e a cada curva uma surpresa, um susto, um grito desvairado, uma torrente de lágrimas, ganhos e o que chamamos de perdas, que particularmente não vejo assim. Vejo que recebemos e precisamos deixar passar situações, posições, amizades, relações, titularidades, conquistas e angústias seguidas por vezes de fracassos que se tornam combustível, energia para novas conquistas. O “xis” da questão é que não queremos “deixar passar” e aí empreendemos lutas hercúleas para manter algo que precisa ser deixado, aquietado, acomodado em um canto, esquecido, assentado.
A maturidade dos 40 ainda não é a ideal, contudo traz uma condição muito interessante, mas que não é a leveza do ser como nomeou seu livro, Milan Kundera. O discernimento de saber o que não se quer mais. Nesse momento ganhamos força para recusar o que queremos deixar fora da nossa estrada particular, da nossa individualidade ou como relata no seu livro, Eduardo Carmello, sua singularidade.
Se aos trinta você viajava com amigos para lugares não tão amados para preservação da boa amizade, aos 40 você se robustece e agradece, sabendo que para aquele destino não há o que nem porque negociar. Escolhe, quando aguenta sua própria companhia, permanecer em casa, aquietado (a), sem rancor, angústias e temor. Não se perde. Pelo contrário, ganha-se identidade, respeito, espaço, vontade própria, alma, decisão.
Aos 50 a vida fica leve…Já rodamos 05 décadas, já vimos e revimos muitos temas, questões, situações. Modas repaginadas, escândalos reincidentes, quase novos, repaginados com outra coloração, dimensão, intensidade como, por exemplo, na passeata das vadias em São Paulo quem empunhava o microfone, defendendo a legalização do aborto não era do gênero feminino – mulher. Vi como espetacular a situação: quem não concebe, quem não gera, defendendo a legalização do aborto. Considero um ato de interesse da coletividade gênero mulher, independente de pertencer e ter equipamento ou não para conceber bebês. Ato altruísta diria.
Mas voltando aos 50…hummmm . Os 5.0 nada ansiado pela maioria que luta aliado aos bisturis, fórmulas, placebos, para preservar o viço da juventude. Desculpem-me, mas o que vejo são caricaturas distorcidas de jovens. A juventude é inigualável, incomparável, inimitável, tem identidade própria, estilo e sonoridade.
Aquietem-se almas, preparem-se para preparar as próximas gerações. O corpo já requer outro ritmo, outra forma de viver, de pisar, de ouvir e lamber os beiços. Aquietem-se almas que prometem amor eterno e chegando aos 5.0 evadem das suas promessas, acordos, em busca de sentirem-se jovens, sobretudo aqueles que tem dinheiro que acreditam piamente que abrindo suas carteiras, compram tudo que orbita ao seu redor, compram o indulto da juventude, do prazer da realização. Ledo engano!
Enquanto vocês bebem juventude, os jovens bebem vocês homens e mulheres de bem que creem. Cédulas de dinheiro não contêm nem 01 grama, muito menos valor de respeito, amor, cumplicidade, apoio e quentura em dias frios. Tão somente poderá constatar o valor monetário.
Aquietem-se almas, que buscam continuamente consertar o que a natureza trouxe desfigurado em forma de transtornos, síndromes, surtos, afastamento da realidade que seja. Isso não se compra, não se encontra nas prateleiras e vocês com todo dinheiro a disposição não pode comprar equilíbrio, lembranças, sensibilidade e muito menos amizades verdadeiras.
Na juventude prometemos tudo a todos. Aos cinquenta repaginamos: aquietamos ou obscurecemos nossas melhores lembranças em favor de aventuras rasas e supérfluas, emoções, conjurações, ilusões.
Aquietem-se idosos bebes, pois é para lá que vocês estão seguindo….para um upgrade da idade adulta.