2018 – Enfim dá seus primeiros passos…

Após o Carnaval o ano inicia de forma vigorosa, com todos os seus tributos e desafios. Aulas iniciando, agendas assoberbadas de compromissos sem fim que muitas vezes não levam seus donos ou donas a nenhum lugar. A necessidade de fazer mais e mais dinheiro, mais e mais patrimônio, mais e mais entulho guardado nos tantos metros quadrados ocupados de um espaço chamado: LAR que talvez não seja tão doce como os humanos apreciariam, visto que muitos não conseguem desfrutar, ter paz ou mesmo produzir.

Ano após ano, trabalha-se por necessidade ou por escolha. Não são poucas as vezes que se torna a maratona incansável, criando e sustentando um personagem que ao sair de cena, embebeda-se, se mutila, desgasta-se, se destrói nas ilusórias exigências a que se submete dia a dia.

Objetivo, meta, propósito, sentido de vida? Sim, sim, sim. Cada um desenha o seu próprio, usando estratégias, ferramentas, instrumentos que apreendeu ao longo da sua vida ou dispõe desde que entrou em contato com o ambiente e consigo mesmo.

Descolar, desapegar, desonerar-se do que a sociedade nos impõe ou que nos impomos (in) voluntariamente?

Nossa imaginação cria obrigações ilusórias, além das que concretamente possuímos, a de ter que ter para compensar o ser que gostaríamos de apresentar no palco da vida. Como? Simples: Podemos viver em um espaço confortável para duas pessoas de talvez setenta metros quadrados, mas ansiamos por ter duzentos metros, decorados e caprichados de forma que quem chegar fique deslumbrado, desejando ter situação semelhante.

No âmago, o desejo é de ser aceito, pertencer, destacar-se. Qual o preço se dispões a pagar?

Fazendo de conta…Ser adulto é para espertos, fortes ou apenas adultos?

Barbas espessas, paletó de bom corte, pernas cruzadas, gestos contundentes ou saltos altíssimos, roupas que dão um ar senhoril, qualquer estratégia vale a pena.

Lembro de que, aos 21 anos, quando dava meus primeiros passos em funções executivas nas empresas, envergava roupas diferentes da minha jovialidade, a escova era o melhor penteado, saltos altíssimos e claro, a moderação do sorriso para ser mais credível foram alternativas viáveis que de certa forma me tranquilizaram diante dos obstáculos que precisava ou acreditava ter que superar.

Essa questão nos captura, nos sequestra quando a partir da idade legal (18-21) precisamos fazer de conta que crescemos, sabemos com propriedade dos assuntos e compreendemos tudo o que nos dizem ou apresentam.

Afinal, o que é ser adulto, do que se compõe a adultez? Tutankamon, faraó menino do Egito aos 14 anos, foi o último faraó da 18 dinastia. Morre aos 19 anos. No curto período  de tempo que esteve à frente do reino, realizou grandes e importantes obras.

Tenho repetido nos relatos, palestras e aulas que a idade da virada é 25 anos, metade de 50 (meia idade). Ou você direciona sua vida ou desperdiça tempo mesmo. As pessoas frustradas costumam dizer que  “não era hora” quando algo não dá certo. Costumo pensar que não houve preparo adequado e a pessoa está em dissonância com a idade dela. São os famosos adultos infantis ou adolescentes que não apropriam sua energia adequadamente. De fato observação, atenção e foco são ingredientes indispensáveis na caminhada chamada vida.

Até os 30 anos, via de regra, algumas pessoas, vivem meio que no automático, sem dirigir sua vida.  Faz-se de conta que se controla o incontrolável: o meio, as modas, tendências o estabelecido e ponto.

Nesse furdunço de aspectos e dimensões, as verdades, inferências e fatos se avolumam, tomando conta das mentes que angustiadas se preocupam em cumprir um roteiro estabelecido.

Meio século nos faz compreender, com algumas exceções, é claro, parte do que seja essa coisa chamada VIDA, CENA, PERSONAGENS, CONTEXTO E DEIXAS.

Alguns exemplos na linha do tempo: o homem recebe o papel de provedor, responsável pela família e passível da vida pública; já a mulher rainha da vida privada, responsável pelo bem estar da sua família, pelo bom funcionamento da casa e orientação dos filhos e os idosos respeitados pela experiência que traziam nas suas histórias. Hoje as crianças exercem papéis de mini executivos, com agenda apertada, precisando ser mini adultos, se defendendo dos adultos sequelados que não dão conta das suas responsabilidades, enfim. Papéis estes que hoje são desconstruídos, desarticulados e delineados de forma diferente. O que gera desidentificação, ausência de lugar e onde projetar, se perguntam, os holofotes, em qual área da vida?

Nos dias atuais, acompanhamos crianças adultas, jovens anômalos, adultos infantis, idosos adolescentes em um exercício mórbido de ser. Postergar, antecipar, enfim parecer diferente do que não se é. Absoluta dissonância cronológica, emocional e física.

Limites, fronteiras intergeracionais se desfazem diante de nossos olhos. Será que nessa circunstância o jovem se vê semelhante aos adultos maduros ou vê adultos maduros semelhantes à eles?

Para se configurar a adultez torna-se insuficiente: os títulos, a marca do carro, celular, local de moradia, qual salão frequenta, que escolas estudou ou países estudou visitou, tampouco griffe da indumentária, menos ainda da linhagem a que pertence.

Há que se ter estrutura emocional para suportar de forma adequada as tensões, frustrações, embates típicos da transição menino (a) homem/mulher.

As doenças, transtornos, síndromes e distúrbios emocionais que reverberam nas atitudes, escolhas e decisões são parceiras do “faz de conta” a que muitos se submetem nas cenas de vida, playbacks, pinturas e fragmentos da sociedade que vão e vem, se alternam em um pedido agudo intermitente de SOCORRO.

O faz de conta na entidade criança é esperado, apropriado e essencial. O imaginário pede licença para se apresentar, existir e por fim, passar para nossa alma em forma de competências e musculatura para abstrações, frustrações, revisões e superações.  São os SE-NÕES de toda uma vida.

 

Ciclos redondos, quadrados, pontiagudos, interrompidos, resolvidos…

20170421_160706Um dia nublado, o vento gélido nos convida a recolher o corpo em casa. Diferente do pensamento que vasculha as teias da memória, trazendo momentos significativos onde a borboleta que habita na nossa alma de novo e de novo metamorfoseia.

Me transportei para Ilhéus, três anos de idade, no dia em que meus pais no quarto, antes de dormir, convenceram-me que faria um bem enorme se jogasse minha chupeta, a um bicho chamado jacaré. De muito boa vontade lancei a chupeta ao pobre animal. Final de ciclo da vida com chupeta. Mas as marcas foram preservadas por meio da arcada pronunciada por muitas décadas. Assim ocorre com toda sorte e qualidade de mudanças vividas.

1968, ônibus da São Geraldo, sucos de laranja, tangerina e uva em plásticos no formato das frutas. Eu saboreando uma dessas, sentada no degrau ao lado do motorista em intermináveis conversas recheadas de perguntas sobre a vida dele, a estrada, os passageiros e sobre o atrativo sanduíche na parada de São Mateus, derramando queijo por todos os lados do pão na chapa chamado queijo quente, o qual não existia na minha realidade. De Ilhéus para o Rio de Janeiro, uma nova etapa da minha vida: Olinda – Nilópolis-Rio de Janeiro quando a Beija-flor ainda engatinhava.

Ditadura, Diretas Já…1972…Paz e Amor. Uma paz que se distanciou dos meus dias. Deixei de ter o convívio em família, mudando de região e cidade. Conheci uma vida repleta de primos e primas, a beira da maré, manguezal, caranguejos, canoas, machucados e uma saudade doída, cortante que minha tão pouca idade e tamanho não sabiam dimensionar ou gerenciar.

15 anos, fuga de casa por um dia, com retorno a noite. Vestido branco com fitilho azul, tamancos brancos e altos. Muitas pessoas, chocolate quente, bolo de coco, pipocas, sanduichinhos e sacanagem (azeitonas, tomates, pimentões queijos e salsichas picados e espetados em palitos). Minha avó paterna e tias fizeram tudo de forma simples, mas com muito esmero. Não deixaram passar em branco a comemoração de uma vida. Profunda gratidão.

Não sabia ainda que retornaria ao Rio de Janeiro para dividir teto com minha mãe-drasta. Tão jovem e com tamanha responsabilidade e valentia.

Mudanças radicais são constantes na minha vida e as recebo de bom grado sem espernear, reclamar ou resistir. Quando elas surgem no horizonte as acolho e vagarosamente saboreio.

Dizer que não tenho medo, que meu estomago não resfria e que minhas pernas não tremem, seria falácia. Sinto tudo e mais um pouco. Deixo vir, avanço sem olhar para trás e dou o passo necessário para seguir. Marcas leves, profundas, cicatrizes me levam para outro estágio da vida. Mais maduro, seguro, puro ou não.

Amores, dissabores, horrores todos nós vivemos ou assistimos. No entanto, o fruto dessas experiências nos faz pensar, agir e sentir diferentemente a cada período das nossas vidas. Diante desse fato podemos adotar posicionamentos distintos: de problematização ou resolução; de dor ou alegria; de fuga ou enfrentamento; angústia ou deleite.

Mudanças são importantes, necessárias e inerentes a vida de um ser humano. Quem resiste sofre. Quem acolhe vive os ciclos encerrando, outros debutando, os cabelos platinando; as marcas faciais chegando, as articulações enrijecendo, o ritmo e movimentos lentificando, o cérebro esquecendo, as lembranças se apresentando com mais constância. A vida é um conjunto de idas e vindas, vôos e recolhimentos, conquistas e despedidas. Portanto, apenas VIVA.

Faces da rejeição na contemporaneidade

Inúmeras definições podem ser apreciadas quando falamos em rejeição. Resumidamente esse processo enfatiza o posicionamento de resistência, negação ou recusa de uma pessoa por algo ou por outra pessoa. A incapacidade de aceitar ou tolerar manifesta-se, nessas ocasiões, claramente.

É uma experiência para muitos doída, latejante até. Para mim? Não, não é diferente, afinal sou um corpo físico e emocional. Um ser humano.

Buscando entender a rejeição, penso que seja uma escolha, por vezes complexa, em não desejar conhecer melhor o que nos incomoda, acelera, fragiliza ou obscurece, sobretudo nas situações de estabelecimentos de vínculos e investimentos nas relações.

O ambiente social delineou e determinou a forma ideal de nos relacionarmos, definiu a importância da família, da parentela, os limites sutis e os mais contundentes. E quando fugimos minimamente ao padrão estabelecido é uma explosão de likes ou unlikes.

A rejeição parece ser uma parente próxima do desconhecido. Digo isso pois apreciaria muito dizer que, conhecendo o objeto da rejeição e o motivo pelo qual se rejeita, a resistência prevaleça. No entanto, pude acompanhar algumas situações diversa dessa minha crença, onde, embora as pessoas conheçam e se saiba o motivo da rejeição (despeito, desconforto, vingança, pirraça, teimosia, sofrimento, saudade, ausência ou excesso de afeto, confronto), sabe-se lá o  que pode ser…

Todas as possibilidades podem ser reais, contudo tem um palpite que não se afasta da minha mente: que o protagonista da rejeição é absurdamente confrontado a algo que não consegue emocionalmente gerenciar pois explode, estraçalha cada fragmento da sua essência.

Ufaaa, pensando dessa forma, até sinto a dor do outro quando rasga impiedosamente sua essência em pedaços desencontrados. Dessa forma consigo compreender em absoluto o ato de rejeitar.

O rejeitado no entanto pode saber perfeitamente o motivo ou simplesmente desconhecer em absoluto o que leva o outro a agir dessa forma, embora essa questão não o impossibilite de respirar, pagar suas contas, beijar na boca, estudar, avançar na vida, enfim viver.

Decidi escrever sobre rejeição pois é uma experiência que conheci desde muito cedo, ainda na infância e dependendo de quem fosse o ator da rejeição, lembro como isso impactava no meu sentir. Asseguro que quanto mais representativa a pessoa, o afeto envolvido e o lugar que a pessoa ocupa em nossa existência, dói mais ou nada.

Mas dia a dia fui aprendendo que esse efeito somente conseguia um lugar se eu permitisse. Dessa forma pouco a pouco e à medida que amadurecia em idade e experiências, tirei de letra, gerenciei cada vez melhor os “chega para lá” que pessoas passantes em minha vida me concediam.

Confesso que foi muito mais fácil gerenciar quando a pessoa não tinha um lugar nobre na minha mente ou sentimentos.

E quando pessoas que amamos nos apagam da sua vida, sem no entanto deixar claro o motivo ou ao menos se dispôr a construir uma relação amistosa, próxima, cúmplice? Bem…não é fácil, mas é possível sobreviver, seguir o rumo.

Existe um grande risco por parte do rejeitado, o de decidir da mesma forma, apagar da sua vida quem o rejeita. Como deletar uma história possível de um dia acontecer. É uma escolha difícil mas nada impeditiva.

Nesses casos a ruptura é inevitável e poucas vezes passível de resgate. Cabe lembrar que, a não ser que sejamos, gêmeos univitelinos, nascemos sozinhos, autônomos, independentes e podemos seguir escolhendo com quem estabelecemos vínculos, vivemos em cumplicidade, próximos ou de quem tomamos distâncias.

Então…antes de resistir, ignorar, rejeitar explicitamente alguém, pense em outros momentos na sua vida e sobretudo, se você tem disposição e capacidade de superar as consequências que podem afetar sobremaneira a vida de pessoas que sejam mais suscetíveis.

Sonhar de olhos abertos. Uma condição privilegiada de todos nós!

São dias e dias vivendo. Olhando o que está fora e dentro de mim. Sinto o pulsar do coração, o frio na barriga como se a adolescência voltasse a morar no meu ser. Mas já não sou adolescente. Sou grisalha, tenho décadas de acertos,  e erros, sucessos e fracassos, sorrisos e lágrimas, avanços e retrocessos. É bom esse negócio chamado vida, por isso talvez tenhamos um frenético temor de passar a outra condição que nem sabemos qual será…

Recebi essa foto da lua e ela me remeteu a uma reflexão: Vista assim do alto, ela testemunha, assim como o sol, nossos passos, compassos e descompassos nessa estrada onde tantos passam por nós, permanecem por um tempo e seguem ao lado ou distante de nossas vidas.

Me vejo dentro de um trem que me leva ao monte chamado decisão, mudança de rumo, retomada do sonho acalentado desde a juventude e hoje a diferença é a responsabilidade, o cuidado, a atenção dispensada ao sentimento alheio, o carinho e respeito.

A vida é um jardim de girassóis, lindo, lindo…e daqui sinto a suave brisa acariciar meu rosto que por um mero acaso contrasta com o grisalho do meu cabelo por ainda não revelar claramente e tacitamente a idade que trago na alma.

Fé, saúde, o eterno namoro com a profissão, os desafios, os convites, as propostas, o silêncio, as oportunidades, a vontade, a preguiça, os filmes e livros, faces de uma vida enriquecida com outras vidas que passam, alegram, irritam, fadigam e nos provocam a sair do lugar.

Viver…poder olhar a lua, o sol, nadar, sonhar, planejar e concretizar. É possível em qualquer tempo, idade e condição. Por vezes rápido, outras mais lentificado por precisarmos aguardar o tempo que não é seu, a vida que não é sua, a vontade que não lhe cabe.

Integridade…meu maior desafio, minha melhor condição. Inteira, comigo mesma. A isso chamo viver, olhar a lua sem vergonha ou constrangimento de não ser aquilo que não se quer ser.

Crônica Gaiola Dourada

Gerenciar = Questionar

Inspire, expire, sente, levante, sorria, chore, acorde, durma, ande, corra, caminhe, mas faça tudo, sabendo o que está e o motivo de estar fazendo. Viva em contato consigo.

Tudo o que ela havia sonhado ter na infância tinha extrapolado muito na sua adultez. Alta, delgada, ruiva, cabelos brilhantes, longos, cheio, sorriso largo estampado na face de boca carmim, cílios longos e olhos da cor do mar. _ Aqui paro me perguntando: Qual a cor do mar?

Respondo mentalmente: Depende. O dia dela, da Alva, esse era o seu nome, iniciava e lá estava seu amado  com um belo sorriso estampado no rosto. Alinda, sua secretária particular equilibrava uma bandeja   com delícias (suco de amora, dois crepes e um pequeno pedaço de queijo branco).

O aroma de café perfumava todo o ambiente do quarto. Alba faceira, espreguiçava-se, saboreava a companhia do amado, do saboroso café e o tempo que brincava nos ponteiros do relógio.

Todas as viagens, compras, lazer, estudos, patrimônio, todos os percursos a fazer o amado de Alva decidia e ela o acompanhava sem titubear. Passadas décadas e décadas Alva caminhava sozinha no parque pois o amado viajara; Curiosa sentiu desejo de adentrar em uma área cada vez mais e mais arborizada até que não sabia mais o caminho de volta.

Crendo que a buscariam, Alva sentou-se pondo-se a esperar. Escureceu e Alva apavorada encolheu-se toda, chorando copiosamente. Não tinha a menor ideia do que fazer.

Esgotada adormeceu e sonhou que estava correndo no bairro onde morava de pés descalços, cabelos esvoaçando, rodopiando com outras crianças.

Acordou sentindo-se diferente. Olhou ao redor prescrutando o entorno e viu que próximo tinha um pé de uma frutinha vermelha arroxeada. Diante da fome, não avaliou se seria ou não nociva. Levou-a a boca. Fechou os olhos esperando o resultado. Sentiu o sabor do suco que Alinda trazia todas as manhãs e desejou ficar ali por mais  um tempo.

Levantou-se e após 30 minutos de caminhada, encontrou uma casa. Tocou uma campainha, aguardou e percebeu que as vozes eram de um casal de idosos que se batiam de um lado para o outro para chegarem à porta.

Ao abrirem notou que a casa estava uma desorganização só e Alva desconhecia todo e qualquer processo ou procedimento para organizar coisas ou seja lá o que fosse. Assustada pensava no que fazer para resolver ou mesmo amenizar a confusão daquela casa.

Acompanhou por mais de vinte minutos o casal falando, gesticulando, se movimentando vagarosamente entre a sala, cozinha e varanda.  O tempo passou e ela queria muito, mas não entendia o que acontecia naquele lugar. No entanto, percebeu uma forma de viver diferente. Ele vestuário pastel e suspensórios queria chá, ela vestido colorido pedia um café;

As canecas eram todas diferentes, a pia estava cheia de pratos, a mesa com pães diversos, os pássaros petiscavam os grãozinhos espalhados. De repente ela parou, se desconectou e fixou seu olhar na lua que adentrava pela janela e lembrou-se de como sua vida era toda organizada, cronometrada, odorizada, previsível e o mais chocante!!! Que nada do que fazia parte do seu querer, da sua vontade estava presente.

Lágrimas rolaram dos seus olhos grandes da cor do mar, quando se deu conta naquele momento que sequer sabia voltar para a “sua casa – um lugar onde vivia alijada da realidade do mundo, de outras realidades ao menos” onde vivia desde quando se unira ao seu amado.

Era muito jovem quando conheceu “seu príncipe encantado” que a todo momento a protegia, amava, cuidava, orientava nas menores e maiores situações. A medida que o tempo passava já não conhecia qual era a sua vontade, o seu querer. Não sabia o que a divertia, o que a encantava e pouco a pouco sua essência adormeceu, permanecendo anestesiada até aquele momento. Esqueceu por todo esse tempo quem era, do que gostava e até do que queria.

Nesse Movimento piscou os olhos e viu que o casal estava parado diante dela, gesticulando e falando: acorda, acorda!!!  Volta para sua casa ou nos ajude. Não fique aí parada como uma estátua.

Alva precisava ocupar um lugar, tomar uma atitude para não se tornar um peso na vida do casal de idosos. Respondeu ok, ok, vou começar fazendo um chá e um café para que me contem como vieram parar aqui….

Sentaram e saborearam o sabor das bebidas que Alva preparara e com uma careta ambos murmuraram…ughhh que sabor estranho….Alva lembrou que não sabia a medida certa para as bebidas, deduzindo que tinha errado.

Mas…iniciaram a conversa e o casal relatou que chegaram ali depois de brigar com toda a família e para garantirem dias dignos nesse fim de trajetória nas suas vidas pois todos queriam determinar o que eles deviam ou não fazer.

Alva surpreendida pela decisão, determinação e ousadia do casal de dispensarem uma vida mais comoda e segura apenas para garantirem a prevalência da sua vontade. O casal explica que é extremamente importante resguardar a identidade enquanto se está no modo vivo, existindo.

Após algumas perguntas perceberam que Alva em nada dirigia a vida dela. Tudo que fazia era para, poe e com alguém.  Não encontrava sentido na vida dela. Os sonhos eram vários mas completamente desconectados, respirava e se realizava por meio de outras vidas. Vivia um vazio existencial.

O casal desenhou um plano para que  Alva encontrasse sentido na vida, iniciando por uma prática simples. Em uma mesa dia a dia ofertava a Alva livros, assuntos, sabores, odores e verificavam pacientemente o que ela apreciava, rejeitava ou exultava à medida que experimentava. Nas noites contavam histórias e ouviam histórias, ensinando a Alva a falar na primeira pessoa do singular (EU) pois quando ela falava parecia uma Artigo acadêmico, sempre na primeira pessoa do plural (NÓS).

E assim foi por um largo tempo. Alva esquecera da urgência de voltar para uma vida que não sabia ser dela, mas um dia ao acordar notou um movimento estranho e deparou-se com uma ambulância e profissionais de resgate. Olhava aturdida para todos os lados e tudo encontrava-se arrumado como deixara à noite. Não viu o casal. Perguntou aos prantos o que havia acontecido.

Os profissionais informaram que um casal de idosos informara que havia ali uma pessoa que precisava ser resgatada pois estava pronta para viver fora daquela casa. Alva entendeu que a pessoa era ela e que estava na hora de voltar, tendo sua vida nas suas mãos como aprendera no período que permaneceu com o casal: decidindo, escolhendo, refletindo e respeitando seu ritmo e estilo.

 

 

Visão do jovem e da pessoa madura diante da NOV-IDADE…

Em fevereiro de 2015 elaborei um texto falando dos benefícios da juventude. Hoje primeiro de março de 2017, mas ainda, olhando para fevereiro quero refletir sobre a diferença do olhar do jovem e do maduro vivido diante dos eventos que se sucedem dia após dia em nossas vidas.

Tempos passados estava apresentando um tema em sala de aula e afirmei convicta diante da turma: pessoal não existe novidade. Tudo que se nos apresenta já existiu e nos é apresentado apenas repaginado, com nomenclatura diferente, as vezes de forma diferente, mas a verdade é que já existiu. Finalizei minha fala com inúmeros exemplos: brinco de pena, calça pescador, roupas tingidas, calça carpinteiro, design thinking, mamas menores, opulentas, cabelos compridos nos rapazes com franjão, entre outros.

Voltando para casa, no entanto, a cada curva, revisitava a imagem dos semblantes atônitos da turma e repensava minha afirmativa. Lembrei que a média da idade deles era em torno de vinte e cinco anos e alguns não tinham experimentado sequer sair do Estado, tampouco viajar de avião.

Empaticamente olhei com os olhos deles, mas ainda não tinha tido a humildade do insight que me levaria a escrever esse texto.

Na primeira semana de 2017, participando de uma palestra, novamente me peguei pensando no tema pois o expositor era um jovem indo na direção da terceira década da sua vida, olhos brilhantes, energia alta, falando de uma rica experiência vivenciada em outro país, especificamente em um lugar onde as novidades são paridas por gênios. Estudando as expressões faciais que brigavam para marcarem presença na face do expositor, lembrei de quando passava pela mesma fase de vida me sentia mulher maravilha (os novos procurem no Google, como diria Leandro Karnal nas suas palestras), senhora da informação mais importante de todos os tempos. Da mesma forma lembrei o olhar parcimonioso das pessoas maduras, reduzidamente fulgurosos diante da grande descoberta que eu, poder absoluto, havia feito.

Hoje encontro-me nesse lugar de olhar parcimonioso. Por esse motivo quero compartilhar algumas questões que para mim, foram iluminadas:

  • Nós, os vividos devemos preservar o brilho nos olhos ou na medida do possível, deixar que o outro sinta-se iluminado, evitando enterrar a boa energia da novidade na vida dos jovens. Não importa o quanto tenhamos vivido e o quanto saibamos. A experiência da descoberta é e será sempre nova e ponto;
  • O jovem diante de uma plateia mais madura pode, se assim desejar, cuidar para não agir de forma arrogante. Talvez considerar que a plateia sabe a informação de outra forma e que podem agregar à sua explanação seja uma atitude estratégica por isso, inteligente;
  • Ainda que suas descobertas tenham ocorrido em outro países e culturas, lembrar que a web nos leva a qualquer lugar e saber. Assim sendo, sentir-se parte da Liga dos Heróis pode ser uma forte ilusão. Ainda que muitos não tenham viajado de avião, certamente muitos viajam na web para qualquer lugar e em direção a qualquer informação.
  • Considerar que em 2017 anos de existência os continentes precisaram inventar e reinventar intermitentemente, sobretudo pós revolução industrial quando o consumismo passa a ser parceiro de caminhada de significativa parte da população mundial.

 

Dessa forma, a cada século as mamas diminuem, crescem; os cabelos alisam, encaracolam; as roupas sobem, descem; tornam-se escuras e claras – leves e densas – monocromáticas e estampadas; os acessórios variam de prateados a dourados; calçados rasteiros, crescem o salto que pode ser fino ou quadrado; os carros se apequenam e se agigantam não cabendo nas garagens, o que considero uma ausência absoluta entre montadoras e engenheiros e arquitetos que desenham projetos residenciais , as casas tornam-se clean ou rústicas e de fato, após tudo isso, duas conclusões me invadem a mente:

Grandes batalhas, motivos e objetivos que não sai das passarelas, não se torna ultrapassadas, perseverando com a mesma face século após século, são:

  1. Do ser humano ansiar no profundo do coração ser exclusivo, marcar sua existência e individualidade e;
  2. A autopreservação, a fim de garantir a própria sobrevivência bem como da sua parentela.

E que venha o novo Março, agora de 2017.

2017 o ciclo mais jovem de todos os tempos…

Dia 09 de janeiro. Após um ano sem nada postar por conta do tempo dedicado a um projeto de brutal importância para minha vida, retomo a esse que considero um caminho de aprendizado. Quando escrevo, penso em quem irá ler e essa possibilidade é desafiadora, acompanhada de indagações simples, complexas e insuperáveis. Em 2016 aprendi que meu limite é maior do que imaginava; aprendi que meus medos saíram para passear e não estão sentindo falta de casa; que a dor da perda do que você não tinha, passa igual as outras dores. Que as pessoas nos avaliam pelo que elas são. Se são íntegras julgam que jamais as enganaremos, no entanto, se são obscuras nos atribuem sua obscuridade. Aprendi que a peçonha é igual a mastruz: alivia aferroando. Conheci pessoas adoráveis, de olhar azul límpido, de caráter rijo e transparente, de sorriso doce e capacidade cooperativa inimaginável. Conheci adultos com alma de crianças sorridentes. Acumulei horas de vôo, milhas no Multiplus que ainda não usei. Mas vou usar. Em 2016 venci fronteiras que se agigantaram diante de mim aos 9 de dezembro de 2014. Superei, descansei da luta e agora me preparo para mais batalhas. A batalha do constantemente estudar idioma; a batalha da balança; a batalha do avanço na Academia. Me despedi também em 2016. De grupos, de Associações, de lugares de pessoas. A despedida maior foi a do meu tio querido que foi referência na minha criação a quem carinhosamente tratava de pai do coração. Um sujeito silenciosamente carinhoso, cuidador e severamente correto. Um beijo a sua memória meu amado tio. Recebi na minha casa pessoas alegres e dispostas. Tias a quem dedico muito respeito carinho. Descobri. Me descobri mais misericordiosa, mais atenta ao meu entorno e me peguei muitas vezes justificando o comportamento alheio. Aprendi que sei fazer sopas e saladas diferentes. Que escrevo de forma dramática, enfática. Me diverti, gargalhei e pouco fui a praia. Visitei pouco as pessoas que estimo. Mas a noite de Natal foi especial e a noite da virada do ano uma bela promessa de quietude. Descobri (já faz algum tempo) como é bom viver em silêncio, ler muito, caminhar sempre e sorrir, um sorriso pequeno, desavantajado, que sai da alma. Encontrei, reencontrei parcerias de trabalho. Fui presenteada com belíssimos projetos em belíssimas empresas onde por meio das pessoas alcançamos resultados diferenciados. Como sabem, escolhi acreditar em Deus e além de agradecer a você que certamente faz parte (de alguma forma) da minha vida, dispenso minha gratidão a Deus que manejou para que tudo acontecesse. Enfim, mesmo diante de lágrimas o que mais enxerguei foram sorrisos e superações. Que venha 2017.