EDUCAÇÃO, moldando o caráter da nação.
De Artífices a Profissionais – Formação e Geração de Mão de Obra no estado do ES
Bene Régis Figueiredo[1] e Maria Rita de Cássia Sales Régis[2] e José Candid[3]o Rifan Sueth
“Aprendizagem é mais que acumulação de fatos, provoca modificação quer no comportamento do indivíduo, na orientação da ação futura ou nas atitudes e personalidade. É aprendizagem que penetra em todas as parcelas de sua existência, ou seja, inteligência emocional”
Carl Rogers
RESUMO.
ESTE ARTIGO pretende trazer reflexões sobre o momento político econômico da implantação e evolução das Escolas de Aprendizes em Institutos Federais no Espírito Santo; comentar razões citadas na história para a estrutura então adotada e forma de sobrevivência a priori. Em um momento posterior comentaremos a herança e orgulho da marca que influenciou e influencia gerações. Na conclusão serão feitas considerações sobre a força versus a vulnerabilidade da marca e do ideal na atualidade.
Palavras Chaves: Educação, Aprendizagem, Profissionalização
ABSTRACT
THIS ARTICLE intends to bring reflections on the current political and economic developments in the implementation of Learning in Schools Federal Institutes in the Espírito Santo commenting reasons cited in the story to the structure and then adopted a priori way to survive. At a later time comment on the brand heritage and pride that has influenced generations and influences. At the conclusion will have some considerations about the strength versus the vulnerability of the brand and the ideal today.
Keywords: Education, Learning, Professional
Reflexões Momento Político Econômico e Implantação de Escola de Artífices
A fim de ingressar na então trajetória da implantação das Escolas de Artífices faz-se necessário retomar a um momento do Brasil onde a prática da escravidão tinha um fim histórico, o aumento da população nas cidades, sobretudo a pobre, dita então raças inferiores pelas teorias racistas advindas da Europa (escravos libertos, mestiços, indígenas), a solução nacional encontrada visando o embranquecimento da raça, melhorando assim nossas possibilidades como nação, a criação de postos de trabalho e o quantitativo relevante de crianças em condição de risco (desvalidos, renegados, abandonados), a rejeição do trabalho manual por ser considerado específico da cultura escrava se instalava de tal forma, carecendo de uma intervenção pontual para modificação deste cenário.
(apud.SUETH, 2009 pp 36) Rui Barbosa de Oliveira, um dos principais idealizadores do ensino industrial no Brasil dizia que “a instrução do povo, ao mesmo tempo em que o civiliza e melhora, tem especialmente em mira habilitá-lo a se governar a si mesmo”.
Todos estes, foram aspectos determinantes para a implantação das Escolas de Aprendizes Artífices em todos os estados pelo então Presidente do Rio de Janeiro Nilo Peçanha remontando o modelo do Colégio de Fábricas de 1809 criado para acolher os órfãos da Casa Pia de Lisboa que proporcionava o ensino de um ofício dentre os tantos demandados e a posteriori inseria o ensino das letras, alocando de forma digna esta população.
O foco do Presidente Nilo Peçanha foi sobretudo o favorecimento da classe proletária, oportunizando sua escolarização, profissionalização e condições mínimas de vida digna.
O principal critério de seleção para o ingresso nas Escolas de Aprendizes Artífices (EAAs) era ser destituído de recursos – “desfavorecido de fortuna”.
O Espírito Santo em 1909, figurava em plano secundário na política e economia brasileiras mesmo se destacando na produção de café. Neste período já se fazia sentir a necessidade de identificação de jovens e qualificação do proletariado em atividades que viriam a ser demandadas pela crescente população e implantação das indústrias que já sentiam carência de mão de obra. A violência atribuída à ociosidade foi uma variável que requereu dos governantes um posicionamento assertivo.
Foram muitas e distintas as variáveis as quais requeriam uma estratégia exitosa que assegurasse tanto a nação e o estado do Espírito Santo.
Estabelecido em uma zona considerada “das elites”, foi iniciado no Parque Moscoso o projeto de acolhimento de menores para a escola primária e a de desenho assim como as oficinas de Carpintaria, Marcenaria, Sapataria, Alfaiataria, Ferraria e Fundição e Eletricidade.
A herança e orgulho da Marca – Escola Técnica do Espírito Santo
O Estado Novo foi ao mesmo tempo autoritário e modernizador (Fausto, 2007: 91). Neste aspecto da modernidade diferia de regimes do tipo de Salazar, em Portugal, de um paralisante conservadorismo, ou do regime de Vichy, com seus apelos bucólicos a um idílico mundo pastoril[4].
Getúlio Vargas não poderia endossar tais pontos de vista, pois a postura nacionalista não poderia admitir que a raça brasileira fosse ameaçada pelos que constituíam a maioria do povo. A política oficial do governo assumiu a ideologia da unidade das três raças e encarou a raça como um conceito mais cultural que biológico.
O Brasil assim assumia sua condição de democracia racial trazida por Gilberto Freyre em Casa Grande e Senzala, adornando sua nação do orgulho suficiente ao confronto com os que se diziam superiores. O importante era que existia uma identidade nacional que fazia comungar costumes africanos, indígenas e brancos, fazendo com que o país se tornasse referência da convivência harmoniosa inter racial. Sabe-se que a história foi mais bem complexa e difícil do que se apresenta aqui, no entanto não cabe aprofundar esta questão.
Traz-se o orgulho, a identidade nacional para introduzir quão prestigioso era estudar na Escola de Aprendizes e Artífices de Vitória. O Jornal Diário da Manhã publicava em sua tiragem antes mesmo da inauguração da escola, os alunos matriculados. Assim principiava a trajetória dos “jovens titãs” que marca o estado do Espírito Santo até os dias atuais.
Décadas adiante o estado já contava com indústrias nos segmentos de tecelagem, metalurgia e siderurgia. A Escola continuava avançando em seu propósito, acolhendo jovens de menor recurso, hospedando-os, alimentando-os, escolarizando-os, profissionalizando-os dando condições enfim para a formação de um caráter diferenciado, erradicando a condição de miséria muitas vezes instalada nas suas vidas.
Durante a Ditadura Militar, a Escola de Aprendizes passa a ser chamada de Escola Técnica Federal do Espírito Santo, justo pela natureza de formação técnica dos cursos ofertados
Estudar na Escola Técnica era sinônimo de pessoas que tinham aptidão diferenciada, rara inteligência, com musculatura para suportar pressão, disciplina e respeito à hierarquia estavam presentes advindas da cultura militar. Uma variável que precisa ser citada aqui e que sobrepujava os demais núcleos de educação da época era a notável excelência dos professores que tinham um perfil que os distinguia da média geral.
Apesar da denominação modificada por duas vezes consecutivas para CEFETES – Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo e por último para IFES – Instituto Federal do Espírito Santo, tendo permanecido na memória popular capixaba de forma contundente a denominação “Escola Técnica” que prevalece até os dias de hoje. Pode-se refletir de duas formas:
1) Que o período (1965 a 1999) marcou notadamente tanto os que ali estudaram quanto a população capixaba, o mercado de trabalho e o segmento industrial.
2) Que a identidade atual carece de um pronunciado e robusto trabalho de imagem exógena de forma que a força e ideal do atual “IFES” seja preservado da segregação e fragmentação pela inserção de Escolas de menor porte, tanto histórico quanto em competência técnica, as quais ganham espaço e sequestram das salas, laboratórios e oficinas do IFES, alunos, inclusive os de menor condição sócio econômica, desviando a Instituição do seu ideal primário e essencial.
Conclusões – Tudo junto e misturado
Pode-se considerar que foi indiscutivelmente um ganho real o IFES extrapolar dos seus objetivos iniciais formando artífices, técnicos para a formação do ensino superior. Cabe uma importante reflexão: O foco, a excelência e a competência dos docentes nesta condição estão sendo preservados? Acompanham a evolução?
Na teoria da espontaneidade de Jacob Levi Moreno que estudou dinâmica e grupos, quando uma imagem e uma prática estão consolidadas diz-se que tornou-se “conserva cultural”. Para alterar, modificar a permanência há que se fazer uma intervenção mantendo, no entanto a essência. Muda-se a forma preservando o conteúdo.
Há que se ter por parte de todo aquele que ocupa um lugar no universo IFES trabalhar as crenças, os motivos que o fazem permanecer na Instituição, o conhecer mais profundamente este “lugar” para que o repasse destes elementos se dêem de forma exitosa no público de hoje que difere sobremaneira dos jovens oriundos do interior do estado, sem perspectivas, sem direção mas que se desdobraram e fizeram da Instituição o que hoje ela se faz apresentar.
A prática deve persistir, a essência deve capturar cada vez todo aquele envolvido no processo do dar e receber conhecimento, técnicas e norte de vida.
Referências
SUETH, José C. R – MELLO, José Carlos – DEORCE, Mariluza Sartori – NUNES, Reginaldo Flexa. “A Trajetória de 100 anos dos Eternos Titãs – Da Escola de Aprendizes Artífices ao Instituto Federal”, 2009
CUNHA, Luiz Antônio. “O Ensino Industrial Manufatureiro do Brasil SP, Brasil Revista Brasileira de Educação, mai-ago, número 014 pp.89-107
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2007.
Site http//www.mte.gov.br – Lei e termos Projeto Jovem Aprendiz
[1] Professor do Instituto Federal do Espírito Santo – Campus Serra.
[2] Mestranda – Mestrado de História PPGHIS/UFES
[3] Professor do Instituto Federal do Espírito Santo – Campus Vitória / Orientador do Artigo
[4] Igualmente o discurso racial, do Estado Novo, segundo Boris Fausto (Fausto, 2007: 130), afastava-se do fascismo, ao menos em sua versão alemã. A ideologia nacionalista do regime procurava enfatizar as qualidades do homem brasileiro, ressaltando suas características sociais e seus atributos políticos. Ainda aí, verificam-se dissonâncias nos discursos de importantes ideólogos do regime: Oliveira Viana e Azevedo Amaral. Oliveira Viana insistia na pureza da raça ariana, que vinha resistindo à contaminação pelo sangue bárbaro de negro e índios. Azevedo Amaral acentuava o parasitismo dos mulatos e defendia a abertura das portas do Brasil à imigração branca.