A passiva do metro

<> on March 28, 2011 in Lisbon, Portugal.

Metro é algo assim, um mundo novo que rasga a retina, movendo a iris alucinadamente como uma jogada de tênis…vão lá e vem cá. Do nada surge uma figura emblemática, fulgurosa, brilhante…caminhando a lentos passos, um de cada vez, movendo lentamente o pescoço, olhando demoradamente para os que passavam à sua direita, à sua esquerda.
Acelerada como sempre, me contive e curiosa parei para contemplar aquela pessoa de cabelos pretos corte a lá Cleópatra, olhos negros sorridentes…Aqui, da minha vida corrida pensei: como alguém podia no meio daquele furacão que é o metro na Consolação, próximo a Av. Paulista em São Paulo dar-se o privilégio de contemplar, experimentar a atenção focada? Como assim?
Se ela conseguia eu também conseguiria. Mas minha mente cobrava o de sempre: rapidez, passar pela vida sem saborear de verdade os momentos. Apenas passar a língua na farta mesa de sabores à disposição e correr como o Coelho do mundo de Alice em um país repleto de tudo menos de maravilhas.
O exercício tornava-se difícil mas valentemente insisti. O coração saindo do estado taquicárdico, a respiração sempre ofegante amainava, eu eu quase encostando na parede para ver a tal passar.
Vendo pelos olhos dela, nada se lhe escapava…a cor do batom, a gola da camisa, a cor do tênis, o ritmo, as angústias até.
Contemplar a vida, as pessoas, o ritmo delas, estabelecer empatia não é para qualquer um, mas para aquela pessoa a princípio vista possivelmente como passiva, inerte, é pura possibilidade.
Enxergar o que está para além é talento de poucos até porque esse conteúdo concorre em número, gênero e grau com os vários estímulos que se interpõem entre nossa iriz e nossa mente.
Falta-me ar, falta-me foco mas combato o bom combate e volto-me ainda para a aparente passiva do metro.
Ela caminha, não ela não caminha, ela sobrevoa suavemente pelas vidas no seu entorno com aquele sorriso enigmático, movimentando as ancas como se estivesse praticando a dança do ventre em câmera lenta, o colo proeminente marcava presença, fazendo seu papel d comissão de frente com altivez. Lembrei das escolas de Samba e do carnaval. Só eu mesma…rindo por dentro e embaralhando vários temas, sinapses e interlocução mental.
Se Freud não explicar, Jung certamente o fará.
Por fim…percebo quanto de vida perco, desperdiço as vezes pela aguda pressa de tudo, de todos, o nada que crio, a linha tênue, as distâncias que se avolumam entre meu ser e o viver e aprendo com aquela mulher, uma borboleta, pousando de del, em del, estabelecendo uma relação íntima e parcimoniosa com cada pétala de flor que pousa, colorida, alegre, esvoaçante, que vive o seu viver, vivendo de fato. E você, o que faz da sua vida?

Lá Vem o Ano Novo de Novo…

Quarta feira de cinzas chegando, tarde silenciosa, fresca, pouco ruído de carros, varandas e cortinas ainda fechadas.
Esperas, expectativas. Vai ou não, fica ou não, avança ou recua, sorri ou chora, enfim, muitas e muitas questões!!!
Muito depende de cada um de nós, muito depende de outras instâncias, vontades, intenções e pensamentos e não nos cabe opinar.
Eu, você, nós queremos avançar, subir um degrau de cada vez. Falta-nos vez ou outra a ferramenta, a abordagem, a intervenção mais adequada e por isso nos perdemos do rumo certo.
Boca diz o que quer, papel aceita o que se escreve, mentes pensam livremente o bem e o mal, sabe-se lá o que? Na verdade conversar, dialogar nem sempre é possível.
Certo dia a professora Tereza Cristina, ainda na graduação em aula sobre Existencialismo destacou a importância de observarmos e percebermos não as palavras, mas as intenções solapadas por trás das palavras. O que de fato a pessoa quer alcançar por meio da palavra dita, bendita ou mesmo maldita.
Nada como ter mais atenção às nossas próprias intenções e levo desses anos vividos alguns aprendizados, tais como, quando muito se insiste mais distância se impõe entre nossa vontade e o objeto almejado; atalhos são talhos na alma que entortam nossos planos e nos levam para longe deles no momento que falta um dedo, um passo; facilidades que criam dificuldades, dívidas e toda sorte de juros; amigos algozes que insidiosamente ofertam presentes de grego os quais a posteriori nos fazem arrancar marcas, energia de toda honra possível e cabível na história de um ser humano.
Ops…o ano começa e é chegada a hora de fazer novas opções e escolhas, portanto muita atenção ao tom, som, eco e intenções que cercam uma dita ação. Muita atenção aos meios, rodeios e tiroteios. Olhos grandes para a reflexão antes de uma decisão e preparação para de forma íntegra assumir as consequências, o que vier seja como for, seja como der.
E o ano começa, depois das cinzas. E cinzas, nos remete à FENIX que mergulha, se desconstrói, se desfaz e refaz. Vamos juntos de cabeça erguida diante dos erros cometidos, decisões equivocadas, olharmos o porvir com a honra, força e fé renovadas.

Confortando um Coração

Hoje precisei retirar um coração do lugar. Ele chorava compulsivamente Um choro de profunda dor, de soluços profundos e cortantes na alma.
Ainda cedo esperançoso de superar mais um desafio, vencer fronteiras, aprender no que podia e devia melhorar.
Apresentou o que precisava e se colocou a disposição para ouvir. Atentamente registrou cada palavra que entrava pelo seu sistema auditivo. Algumas com profundo sentido, outras um burilar da superficialidade, raso mesmo, palavras umas ordenadas com absoluto sentido, outras desordenadas…sem sentido algum.
Suspense…o coração esperava em suspense. Ao ser chamado para compartilhar a leitura final, apertou-se pelos cantos daquele peito e ouviu as palavras cortando-o em fatias, moendo na máquina, batendo o martelo que ao invés de amolecer, retesou suas reentrâncias.
Silêncio longo, os pensamentos fugiram da mente que vazia ecoava o silêncio da morte, do fim, o sangue não menos despudorado foge e se esconde tão bem que empalidece a pele, revelando o estado cadavérico do coração, o pulso para de latir e geme, fazendo desfalecer o corpo que o hospedava, a visão cega, jogava-se no ar não sabendo onde chegaria.
Repentinamente como num ato de misericórdia, muitos braços, curtos, longos enlaçaram o corpo, impedindo a queda no nada. Amparado o coração soluçava a princípio tímido e numa crescente ampliando a sonoridade do seu soluçar até alcançar o profundo do todo.
Coração buscava compreensão da situação, processamento das informações e voltava ao ponto de partida. Lembrou de imagens do percurso e não via motivos concretos para o desfecho, mas estava certo de que precisaria primeiro de tudo resistir, sobreviver. Como? Não sabe ainda, mas vai ser preciso costurar seus pedaços, abotoar sentimentos, congelar emoções e seguir.
Hoje o ritmo desacelerado, quase parado, modo econômico…vagueia, andando em voltas em si mesmo não sabe o que fazer, pensar, sentir.
Silencio no recinto, nem se consegue escutar o tão conhecido tum tum do coração. Uma lágrima de granizo rola dos olhos do coração.

Feridas na Alma – Ponderações & Considerações acerca dos Presidenciáveis 2014

20140526_161242Domingo, dia 5 de Outubro 2014, cumprimos o dever cívico de escolher quem nos representará no papel de Presidente da República, da nossa República e ontem, assim como muitos brasileiros investi tempo, ainda que cansada e com sono, para ouvir o que traziam os candidatos.
Depois de um breve espaço minha imaginação me reportou a um lugar incomum para uma situação dessas: a infância daquelas pessoas e me vi diante de várias indagações, muitas mesmo.
Como foram aquelas crianças, em que ambiente nasceram, como foram acolhidas, educadas, confortadas, corrigidas, surpreendidas, encantadas, desiludidas, frustradas e quero começar pela frustração que nos torce, retorce contorce.
Pude enxergar cada um dos nossos Presidenciáveis. Minha percepção e imaginação coletaram juntas coisas interessantes no olhar de cada um, mas o mais importante não enxerguei: a vontade real de cuidar, de compartilhar responsabilidades com uma nação que anseia equivocadamente por um Salvador, embora saibamos que a salvação é individual e que cada um precisa cumprir sua parte sem ganância, esperteza ou vontade de se “dar bem”, não alcancei compaixão, preocupação, disposição real de dizer não a articulações nocivas por amor à causa Brasil.
Vi pessoas preparadas para dizer o que uma fatia da nação crédula na possibilidade de viver sem ônus, cercada de gratuidade em todas as instâncias; vi o esforço em adivinhar o que os desvalidos, os excluídos, os destituídos, as tantas vítimas que existem ou mesmo, as que gostam de existir e as que se esforçam para vestirem essa indumentária, afinal no Brasil esse é um dentre os melhores personagens do roteiro ‘EXISTIR” e essa destaco, é uma percepção muito particular.
Mas voltando às feridas da alma, olhando nos olhos e no olhar de cada presidenciável vi o olhar infantil aflito por agradar, desafiar, confrontar, persuadir, se arrogar de algo que na verdade traduzia um terrível medo de ser descoberto inofensivo ou mesmo ofensivo como ponderaria nosso doce querido Caetano Veloso.
Vi dor de abandono, rejeição, mágoa, verdade absoluta, desconexão, dor da desqualificação, uma herança e sina a cumprir, cascas, cascas e cascas.
Um grande ato, cena um, dois, três e as máscaras não caíram, sequer demonstraram respeito por milhões de telespectadores.
Promessas sem sentido, base ou fundamento. Negar o visível, explicar o inexplicável, justificar o injustificável, prometer, prometer, prometer.
Aécios, Dilmas, Eduardo, Everaldos, Levis, Lucianas, , Marinas, vocês representam as suas angústias, temores, vaidades, arrogâncias, mágoas, sonhos lunáticos, raivas, pirraças, rejeições, mas jamais, no meu sentimento, o povo brasileiro.
Em nenhum momento vi no olhar de algum de vocês o desejo real de servir, de compreender que somos uma nação miscigenada, diversa, calejada por tantos desmandos, corrupção e desrespeito. A história de vocês é talhada de desarranjos, marcas que depõem contra o que se entende por moral e saudável. Um usa o credo, o outro a mazela do oponente, outro acusa deselegantemente, não sabendo argumentar em fatos que possam engradecem essa nação nascida gigante. Pelo contrário, pareciam meninos birrentos, pirracentos querendo prevalecer na prova de cuspe à distância no ensino fundamental. Cada um pensando e olhando para seu próprio umbigo
Hoje vou ter um sono atribulado, pois sei que meu Brasil, nosso Brasil é rico. Sei o quanto pagamos de impostos. É um buraco sem fundo.
Sabe-se que os hospitais, por mais que sejam inaugurados não estão sendo usufruídos pelas comunidades em sua plenitude. Mais e mais unidades inauguradas, menor a competência física e profissional para acolher os necessitados. As lacunas são preenchidas por empresas de saúde que se torna na atualidade um segundo engodo.
Sabe-se que as escolas públicas sejam estaduais ou municipais remuneram insuficientemente quem é responsável pelo alicerce para sustentação da fundamentação do que virá a ser a EDUCAÇÃO, CIDADANIA? Educação é assim, igual a construção civil onde o plano, o projeto bem fundamentado evita problemas futuros. Se essa estratégia fosse aplicada políticas compensatórias seriam desnecessárias. Cremos na inteligência e competência de todas as etnias desde que recebam condições semelhantes ainda na mais tenra infância. Até quando nos enganaremos com termos politicamente corretos, com lutas que ressuscitam um passado por meio de compensações. O que se precisa compensar é porque não foi feito na hora que precisava.
Enquanto isso, esses temas tornam-se matérias e argumentos políticos infundados que não levam a nação para lugar algum. Os políticos brincam, aumentando seus salários a bel prazer e o salário mínimo é ínfimo. Dessa autonomia compreendo muito pouco. Pois se para ingressarem no cargo público precisam do nosso voto, como não precisam da nossa anuência para aumentar os salários deles, aprovar os orçamentos e ações?
Quanto as obras caríssimas das Câmaras, as licitações correm sem a população ser envolvida. Aonde é o freio?
Corrigir, consertar é melhor que fazer certo, dá mais dinheiro, propina, não é políticos?
Sei que os honestos são via de regra constrangidos, lesados, ficarem com cara de ah é! Como sei que quem não cumpre o estabelecido para um convívio humanamente aceitável, se rebela, descumpre normas é exaltado, inclusive ganhando muitas vezes espaço na mídia, recebendo louros e louvor, cumprindo pena em mansões com piscinas, saunas e alimentação balanceada, pagando uma multa de R$12.500 de fiança, quando na mídia aparece dizendo que tem 10 motoristas e perguntando a população se tem culpa de ser milionário, toda a cena completamente alcoolizado, ele e o filho em plena Praia do Canto na cidade de Vitória/ES. quando .
Clama-se por Justiça, mas ela, segredou que por vergonha, mudou do solo brasileiro. Hoje nos rodeia muito cinismo, desencontro, desarranjo, desvalor, vergonha.
Sabe-se que a paz, segurança não mais será garantida, pois a impunidade e os desencontros prevalecem. As instâncias federal, estadual, municipal não se complementam em prol do cidadão.
Há que se refletir sobre o poder que cabe a cada um, sobre formas escusas de agir, tão ou mais assustadoras que AQUELES que decidem viver contra a maré, pelos atalhos e caminhos da obscuridade. Óbvio que existem EXCEÇÕES, mas são EXCEÇÕES.
Resumindo, Educação, Saúde e Segurança são temas tratados como carochinha, como promessas vazias, sem uma proposta que parta da base, do real, viável, factível.
Voltando aos Presidenciáveis, digam-me como pessoas que não estão inteiras com imensas feridas na alma podem gerenciar e zelar por uma nação. De tantas pessoas e situações limítrofes?
Dia 26-10 chegando e toda sorte de pensamentos, temores, confrontos haverão de acontecer nas redes sociais, nos papos de mesa, ou mesmo sem eira nem beira.
O fato é que precisamos ser plenamente realistas e responsáveis com as escolhas feitas, caminhos e direções percorridos.

Sol, Estrada, Mar com Família nuclear e Boas Amizades

Coqueiral

Se existem coisas que amo, além de viajar e estudar (ler-pesquisar) é dirigir em uma estrada em dia de sol, tendo por parceiro de estrada o mar…além, é claro da minha família (marido e filha).
Acordar com o céu ainda clareando, ouvir os gritos alegres dos seis meninos que passam aqui na avenida onde moro, carregando os carrinhos com os quais eles vão tirar um troco é muito legal. Hoje excepcionalmente um deles parou para fazer xixi junto ao grande pé de jambo, espalhando o xixi dele nos pés dos colegas e todos gargalharam, se espalharam pela calçada. Fiquei olhando a cena e pelo canto da boca sorri….crianças, com humor, sem maldade, onde tudo vira motivo de gargalhada e diversão.
Descendo a avenida uma jovem de cabelos compridos, presos em um rabo de cavalo, casaco de cor preta e calça branca. Talvez uma enfermeira, médica residente, fisioterapeuta ou simplesmente alguém que gosta de usar calça branca.
Voltei minha atenção para o café da manhã. Delícia…sentar e conversar com o marido sempre parceiro que nessa manhã ensolarada ia aplicar provas. A filha foi para o encontro de conversação inglês e eu me diverti lendo a Teorias à luz de Karl Marx. Marx Weber, Pearson, Durkheim. Preciso entender melhor autores da Sociologia, a fundamentação desses e outros pensamentos para escrever uma boa dissertação aonde modo de viver, de produzir, classes, dominação, idéias dominantes, ações revolucionárias, política, economia e social influenciam parte do meu dissertar.
Hora avança, filha chega, saímos para providenciar coisas de casa e uma sobremesa.
Seguimos pela Reta do Aeroporto seguindo um imenso engarrafamento. Acidente? Recapeamento? Não se sabe!
Demos a volta, fomos pela praia. Ah, a praia. Amo a visão do mar verde azulado ou azul esverdeado, a faixa gigante de areia, pessoas indo, vindo, balançando o corpo no ritmo das ondas.
Paramos, compramos a sobremesa e outra vez, estrada. Paramos na escola, meu amado já aguardava e novamente estrada. Rumo a Coqueiral. O mar margeando a estrada. Seguimos alegres ao encontro de boas amizades para um almoço delicioso pelo sabor do alimento e pelo sabor da amizade que já se estende por uma década.
Respeito, afinidade, cooperação mútua, confiança, carinho e profunda admiração.
É assim que é! Sol, Estada, Mar e Boas Amizades com as quais rimos, nos enriquecemos e compartilhamos valores.
Existem coisas, aspectos, situações, grupos que dizem ser fundamentais na vida da pessoa, mas são coisas convencionadas, criadas para serem assim pois historicamente nos disseram que assim era.
Constato a cada dia: o que faz uma pessoa satisfeita, feliz é o acessível, disponível, simples e que nos acolhe a alma, embalando-a com carinho e respeito.
Contrariando a letra da música do Roberto Carlos, tem muita coisa boa que não é imoral, ilegal, nem engorda.
Ótimo fim de semana…

25 de Julho – Dia do Escritor e os céus abriram suas portas para três dos nossos…

Escritores

Fonte: Universia Brasil (Foto)

Mês de Julho 2014 ficará marcado (se é que isso é possível), na mente e no sentimento do povo brasileiro por inúmeras razões:

1) pelo imenso aprendizado proporcionado no Mundial 2014, quando um time preparado nos deu exemplo de unidade, sincronicidade, trabalho persistente, resultado, respeito e humildade pois podiam alcançar de 10. Diminuíram o ritmo em respeito ao que foi plantado em décadas passadas por nossos então jogadores que não eram alvoroçados pela mídia,moravam em casas simples, provavelmente nem usavam cuecas Zorba (a marca!!!!), mas faziam um jogo bonito de garra e suor que desprezava ingredientes como cair, arregalar os olhos como se estivesse em outro mundo, sentar no campo e pedir faltas ou pênaltis como crianças birrentas querendo chamar atenção;

2) um avião com inúmeros especialistas em uma doença que debilita, matando pouco a pouco milhões de pessoas, em todo o mundo, magoando, inflamando mais ainda um sentimento ainda latente de confronto que pouco a pouco passa a permear mais e mais os continentes;

3) pelo nosso cenário político mais assemelhado ao Apocalipse com tantos cavaleiros amorfos, zumbis e a Besta na luta pela opressão e alienação do povo;

4) aos tantos investimentos realizados fora do Brasil quando nosso Desenvolvimento, Educação, Saúde, Segurança agonizam e a Assistência Social luta para favorecer os desfavorecidos que por um lado deixam de ser miseráveis e por outro lado fomentam o parasitismo, embora não seja evidentemente a intenção, mas junta o pessoal do “se dar bem” provocando resultados funestos…

5) Bem, por fim, o que de fato vim compartilhar sobre nossos escritores agora semeadores de esperanças em outras paragens. Podemos pensar que não eram nossos parentes, que não tinham nada a ver conosco…enfim…Quero dizer que tinham sim. Transformavam dores, angústias, medos, frustrações, buscas, alegrias, sorrisos, lágrimas, buscas, amores, desamores, encontros, desencontros, descobertas, afeições em palavras e faziam com que circulassem por todo um mundo chamado mente e sentimento. Fazia brotar das nossas bocas soluços, gargalhadas, frases poéticas que somente eles sabiam o tom, o som, a dimensão.
Tínhamos aqui pertinho e sempre o amado Jorge Amado e sua fiel escudeira, Zélia Gattai, um pouco mais longe Saramago e o trio maravilhoso “Rubem Alves, João Ubaldo Ribeiro, Ariano Suassuna” foi ao encontro deles.
Eles continuam conosco, seu legado é infinitamente extenso…Se considerarmos o que Sartre diz ao falar sobre Literatura a eternidade é certa, pois o leitor completa a obra…então muitos leitores ainda continuarão a completar a obra desses nossos inovadores anjos.

Para não esquecermos de onde viemos….17 Julho 2014

Andar de trem, metro, autocarro, bus, pés..

Furar a gema do ovo e molhar no miolo do pão…Amassar banana da terra cozida, misturar com manteiga, canela e coco ralado…molhar o pão no café com leite…

Comer pés de galinha, asa e pescoço com farinha, chupando os dedos…limpar o prato…

Tomar um copo de coca cola de uma só vez (glub glub)…Tomar mingau pelas beiradas…Deixar a parte boa para o final…

Comer tomate com vinagre e sal, Passar o dedo no sal do amendoim…Assar o milho no espeto e queijo bola no garfo, pingando no fogão…comer pipoca doce…

Aproveitar folhas do caderno, lavar o coador de papel, guardar o livro bom…cooperando para mais árvores continuarem de pé…

Caminhar na chuva, depois passar vick na planta dos pés, colocar meia para não tossir a noite…

Andar descalço (a), sentir cheiro de mato, de asfalto de alho fritando antes do arroz mergulhar na panela…

Quarar roupa, catar clip no chão, colocar naftalina nos ralos da casa…

Guardar canetas de propaganda para dar de presentes nas caminhadas de sábado – dia de feira…

Dividir a tinta do cabelo em duas partes…Emprestar o imprestável…Dar o que não mais se usa…

Ter um cofrinho…Mandar cartas e cartões postais…Pagar em três vezes no máximo…Copiar partes de livros…

Olhar nos olhos do pedinte e não sentir constrangimento, sorrir suavemente e faze-lo sentir gente…

Gargalhar até perder a respiração, economizar dinheiro, usar rabo de cavalo…

Acenar para idosos que olham pela janela perdidos no desejo de um olhar afetuoso, um afago, cumprimentar toda a gente…

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Solo Parisiense – Suíça uma grata surpresa – Lisboa/Brasil 02 a 18 de Junho 2014

Posterguei demais para escrever esse último capítulo da minha trajetória na Europa. Na tentativa de reter sons, imagens, odores, cores e sentimentos fui deixando para depois e depois e depois.

Ao chegar em Vitória ainda no aeroporto descobri que meu aparelho celular havia ficado para trás. Liguei, registrei o fato nos achados e perdidos em Guarulhos e na sexta-feira um jovem querido assim como a família dele, passando por lá, resgatou e trouxe o aparelho.  Um capítulo de suspense que graças a Deus, a pessoa que devolveu e a Vítor teve uma final muito bom para mim.

Ainda fechava os olhos, via as pessoas, os eventos, as conferências, as palestras, as paisagens e as sensações continuavam grudadas. Desfrutei da minha família na chegada de forma absoluta e plena. Não sai da toca. Via o sol adentrando as grandes janelas da cozinha e mais tarde da sala comprida no meu apartamento. Dava tchau e continuava hibernando sem ter contato com a cidade. Até sexta fiquei quietinha, o fuso confuso ainda.

No sábado dia  22 de junho acompanhados de amigos mais que queridos eu e minha família saímos, pegamos estrada para acompanhar uma festa de 60 anos de casamento em um canto maravilhoso do ES. Foi bom pois revisitamos o coração de pessoas que nos são importantes e o convite não se podia negar. O marido chegara pela madrugada, família completa lá fomos nós.

 

Agora é retomar a rotina acadêmica e profissional. Pouco a pouco. É bom, importante e necessário.

Aqui seguem minhas impressões sobre minhas duas últimas semanas em Paris, passando por Genebra e Lisboa. Meus dias de despedida dessa que foi uma aventura ímpar.

Período em Paris – Genebra – Paris   02 a 14 de Junho 2014

Segunda-feira, caminho pela primeira vez o percurso que farei por esses dias. O sol brilha, a brisa visita minha pele que se ambienta com o entorno.

Chego diante do prédio Art Noveau. Depois de ficar que nem barata tonta na recepção, dirijo-me aos andares superiores pela escada, tentando adivinhar onde fica a Ecole de Langues. Vi o nome Accord no tapete do segundo andar pelas escadas. Entrei no que seria parte do meu mundo nas duas semanas seguintes. Ambiente limpo, bonito, confortável e repleto de outras tantas pessoas de muitas partes do mundo aguardando. Fiz o teste em dupla com Charlie, um jovem britânico. A avaliação consiste em dramatizar situações do cotidiano, descrever celebridades enfim. Foi bem diferente do que esperava. Divertido e a profa Isabella bem expressiva.

A Isabella perguntou em qual nível deveria ficar debutante A, A1, A2. Optei pelo A1, assim recupero o que possa ter deixado para trás no Centro de Línguas da UFES e não estou com pressa, quero compreender e aprender de verdade a dinâmica do idioma.

Após as avaliações e intervalo seguimos para sala de aula. Hoje acontecerá apenas a Integração com os que já estão seguindo no programa. A turma que fiquei bem interessante: 02 australianas, 02 poloneses, 03 americanos, 02 suecas, 01 croato, 01 alemã, 01 japonesa, todos batalhando para aprender a língua francesa.

Converso com duas colegas de outras salas (chinesa que vive em Nova York) e (italiana que vive em Milão) e a tarde partilho do meu tempo com Daniela, italiana. A convido para ver o filme Le Buche, ali mesmo na escola que no final concluo ser bizarro (incompreensível). Após essa aventura (do filme), uma longa e deliciosa caminhada por Paris. (descemos a Avenida Sebastopol até a margem intelectual do Rio Sena passamos no Centro Pompideu, na Notre Dame, rodeamos toda a área da Sorbonne, passamos pelo Instituto Monde Árabe que tinha uma gigante exposição, atravessamos o Jardin du Plants aonde tinha uma árvore de 1700 – maravilhosa. Paramos para beber água e recuperar o folego no parque Tour Saint Jacques dali fomos ao Quartier Latin, fechando nosso dia no Pantheon.

É uma caminhada significativa e gigante para primeiro dia. É como se desejássemos conhecer tudo hoje, segunda, mas é impossível, óbvio. Chegando à casa da minha família encontrei-os aguardando para jantar uma comidinha deliciosa e me dei conta que cometi um dos pecados na França: atrasar para jantar. Não acontecerá novamente.

As aulas transcorreram da melhor forma possível. Cada dia um desafio, um obstáculo superado e uma descoberta maravilhosa.

Para falar desses 14 dias em Paris não queria relatar meu dias pois,  a experiência foi bem mais que um relato, foi uma poesia. Vivi uma agenda apertada, o respeito, o carinho e querer dos meus colegas, o acolhimento carinhoso e cuidadoso de um povo tido como arrogante, distante e nada foi da forma que um dia me disseram.

Visitei todos os lugares possíveis dentro da rota do turismo dentro de Paris e outros lugares que não figuram como interessantes de profunda beleza e relevância na história desse lugar que tanto significou nos meus estudos desde o ensino fundamental. Paris é nossa Recife de onde partiam os grandes movimentos e revoluções. É um povo adornado de cultura, de elegância e foco.

A atmosfera parisiense é dinâmica, colorida, alegre. Se pudesse descrever o povo parisiense em quatro palavras nesse período que aqui fiquei diria: livro, cigarro, movimento, conversas.

Todos os dias pareciam fim de semana. Saia da escola após uma belíssima aula da Isabella e caia no mundo conhecendo cada canto e recanto da cidade Luz. Museus, boulevards, rues, construções as mais interessantes, linhas do metro que são 14, linhas de trens que são 04, auto carros, bicicletas, táxis se entrecruzando no trânsito tenso e apressado da cidade. Pela manhã muitas pessoas correndo, rostos indianos, japoneses, chineses, muçulmanos, africanos, suecos, croatos, brasileiros, romenos, todos em um só boulevard, correndo para chegar…

Famílias inteiras (mãe, pai, filhos pequenos), vivendo em esquinas sempre próximos a fontes de água potável e banheiros públicos. Colchão, malas, bolsas, caixas de papelão e pensei como seria no rigoroso inverno? Alguns dias de chuva e a configuração mudava. Eles se acomodavam embaixo das grandes marquises de Instituições bancárias.

Pais, muitos pais levando suas crias, duas, três para escola caminhando e conversando. Crianças de dois anos com vocabulário riquíssimo, debatendo com os pais o sol, a água, o horário, a forma de carregar mochila.

A mulher parisiense está grávida. A quantidade de mulheres grávidas que vi promete uma geração imensa de crianças. Todos os lugares que olhava tinha uma mulher grávida com sua roupa elegante, colada ao corpo, desenhando sua formas precisas.

O corpo magro, enxuto, pernas longas, nádegas pequenas, musculosas e arrebitadas, olhos via de regra claros, cabelos esvoaçantes, cachecol ou grandes lenços coloridos enrodilhados ao pescoço compunha o visual, sempre sendo levados por uma bicicleta acelerada, cruzando sinais, ruas e becos.

O odor da comida com pouca ou nenhuma gordura se fazia convidar pelo meu estomago. Muita salada, de todos os tipos e cores. Dependendo do bairro visitado encontra-se uma variedade de comidas de inúmeros países e culturas. Quando queria comer uma deliciosa comida chinesa sempre ia a Montmartre e escolhia diante de tantos restaurantes onde queria me deleitar.

E as vitrines das Boulangeries (padarias)? Doces lindos, coloridos, de todos os formatos e convidativos. Resisti bem a tentação todos os dias. No último dia de caminhada comi um doce de avelã. Ma-ra-vi-lho-so!

Sacre Coeur, Molin Rouge, Cimetiére, Cité de Science at Industriales, Bibliotheque Nationale de France, Jardin de Luxemburgo, Grand, Petit e Mini Palais, Champs Elysees, Arc de Triomphe, Cittê de L’Architecture, Louvre, Torre Eiffel, Café du Flore no Boulevard Saint German até os pés descascarem de tanto andar e sorver de Paris.

Chegava em casa todas as noites (dia claro e sol a pino), encontrava na mesa meu jantar lindo, pronto pelo lindo casal que me acolheu e não economizavam em conversar e corrigir meus equívocos do idioma. Tomava banho, passava creme nos pés, punha meias e ficava um tempo enorme na sala, mastigando toda a rica experiência do dia, rememorando tentativas, erros e acertos ao me comunicar em francês e a gentileza e paciência dos franceses em me desvendar suas vidas e idiomas.

Sou convidada e participo de um belo jantar com minha família parisiense e seus familiares. Desfruto dos modos à mesa. Inúmeras saladas, carne assada, lasanha de espinafre, queijos de todos os tipos possíveis, vinho e da sobremesa me abstenho. É um tempo alegre de conversa, risadas. Aproveito para ouvir e diante da profusão de novas palavras me resumo a cinco expressões: (Excusez-moi, s’il vous plaît, merci, c’est quoi, comment dites-vous cela?). Essas eu não erro de jeito nenhum….rsrrsrsrs

Dias passam rápido e minha percepção é de que a autoestima do parisiense é esplêndida. Sabe de onde veio o que representam e sabem onde querem chegar todos os dias de suas vidas. Discretos, elegantes, cultos e gostam dos brasileiros que respeitam e consideram sua cultura.

Primeiro fim de semana, aproveitei para experimentar o TGV (Trem de alta velocidade – alcança mais de 300Km) para ir até Genebra (Suiça) rever um querido primo e sua família e lá conheço o mais novo integrante da família com 18 dias de mundo. Lindo meu primo mais pequenino.

Foi um doce fim de semana repleto de risadas e alegria. Conheci pessoas maravilhosas além do meu primo e três pequenos filhos. Ouvi do francês, inglês e alemão suíço. Tudo em um só lugar. Foi sensacional. Genebra é uma cidade cativante, organizada, turistas que não acaba mais e charme espalhado por toda a cidade. Cisnes no grande lago, Jato confrontando o calor do sol que mais parecia brasileiro, sorvetes, cervejas e peles douradas.

De volta a Paris, chegando quase meia noite na casa da minha família depois de chegar a Gare du Lyon, vencer as linhas 1, 4 e 3 do metro. Nada surpresa, mas muito feliz encontro como sempre meu delicioso jantar que sem timidez desfruto, pois o tempo de espera mais a viagem de três horas totalizam seis horas de muita água o que abriu meu apetite.

Mais uma semana de caminhadas sem fim, descobertas. Minha alma inadvertidamente começa a se preparar para o retorno primeiro para Lisboa e depois Brasil.

Conheço Celina uma brasileira de Brasília que vive aqui já há 16 anos. Um doce de pessoa, alegre, vivaz, coração puro. Quer voltar, mas a priori não sabe como operacionalizar Vejo no que posso cooperar. Vou pensar.

Saio para comprar alguns livros e pequeninas lembranças para os mais chegados, uso todas as palavras e expressões que aprendi na sala de aula e mesmo sem necessidade saio igual a um papagaio perguntando tudo a muitas pessoas. Alegro-me por aprender a ouvir com mais clareza as palavras que adentram meu aparelho auditivo. Já não dói, já não incha o cérebro, já não soa estranho. Isso é bom afinal aqui sou estudante.

Minhas duas últimas importantes ações em Paris é ir fazer o passeio de  bateau la Seine e encerrar minha tarde no mesmo café que Jean Paul Sartre se reunia com os intelectuais para respirar o ambiente.

No passeio conheci Sr. Patrick, simpático francês de Nice que visitava mais uma vez a Paris que tanto ama. Conversamos um bocado e para minha alegria ele disse que estava falando bem o francês. Agradeci mas destaquei que era gentileza, pois 01 ano e duas semanas de estudo não dão essa possibilidade pois o francês é um idioma complexo. Mas o passeio foi lindo, divertido, as pessoas cantavam (em vários idiomas). Quando ia pedir licença falava em inglês, francês, espanhol, português até alcançar o que poderia ser…rsrsrsrrs

Tinha um casal tirando fotos e pedi licença e nada….Eram alemães! Dessa não tive como me livrar da mímica. Rsrsrsrs

Última parada: Café du Flore, gueto de Sartre. Olhei o menu. A água custava 7 euros. Pedi uma tônica que ficou em 6 euros 50 cêntimos. O simpático garçom serviu em um copo comprido, repleto de gelo. Senti o líquido gasoso descer pela minha garganta, refrescando minha sede após a longa caminhada que havia realizado da Gare Montparnasse até a Saint Germain. Fiquei ali um tempo não longo, pensando em como seria aquele lugar a noite, absorvido pela fumaça de tantos cigarros e mentes pensantes.

Rememorei a formação clínica que fiz com profa Tereza Cristina Erthal (PUC RJ) que descrevia e falava muito bem da França. Foi ela quem me apresentou o existencialismo, o pensamento sartreano, que hoje percebo também  simpático ao pensamento marxista, a firmeza de Simone Beauvoir, os filósofos alemães, a fenomenologia, esse mundo que agora respirava mais de perto. Saí dai feliz de volta para casa, começar a operação despedida, arrumando malas.  Cheguei Kty me esperava com duas enormes bolsas abertas. Disse que olhasse e o que gostasse podia ficar. Coisas lindas, lindas mas que não pude desfrutar pois tinha tão somente uma mala, sendo que uma segunda já me aguardava em Lisboa.

Minha despedida de Paris não foi triste, nem alegre, foi tão somente uma despedida de alguém que desfrutou, respeitou, considerou a cultura, aprendeu, constatou, se surpreendeu, enfim… Óbvio que ficou o gosto de quero muito mais.

Fui dormir já passava das duas e acordei as sete da manhã para meu petit déjeuner com Kty e Jo meus queridos familiares aqui. Eles já tinham preparado lanche para minha viagem, iogurtes e barrinhas de cereal. Celina chegou para cuidar da casa. Eles seguiam de carro para Itália e eu de autocarro para Lisboa.

Após abraços e beijos desci rumo a Gare Gallieni aonde embarcaria. Após certo atraso por conta de uma Sra. Cabo verdiana que tinha 06 malas gigantes, sendo que o limite eram 02 volumes, a partida aconteceu. Sentada abri o livro que comecei a reler e ao invés de ler, escrevi minha despedida formal de Paris como segue:

14 de junho, aniversário da minha mãe. Dia claro, tímido e um suave chuvisco acaricia, beija minha pele despedindo e já sentindo saudade da minha presença nas ruas de Paris, enquanto puxo minha pequena mala ainda mais pesada do que quando chegou.

Dia de feira para o parisiense, assim como para nós brasileiros. Inúmeras pessoas seguem para a mesma estação que eu, linha 3 destino Gallieni. Desço com valentia três lances de escada, carregando a protuberante mala e aproveito para dar asas a minha imaginação. Faço analogia mental da mala com nossas vidas: quanto menos desapegamos mais peso carregamos. E penso na fatalidade dela ficar sem rodinha e sem alça. Como carregaria esse peso? É preciso pensar na fatalidade, senão seremos eternos desavisados na vida. Sempre chorando, lamentando, reclamando o que não predizemos ou prevenimos. É importante carregar apenas o que você dá conta inclusive diante das fatalidades, eventos que precisam sim, serem esperados. Se não acontecer é lucro.

Deixar pra trás, passar adiante sempre foi e será uma estratégia maravilhosa de e do viver.

Carrinhos de feira se confundem com minha mala, o metro aperta, mas o curso da vida e do metro segue adiante.

Passando pela última vez nas ruas, estações e lugares onde vivi essas duas semanas dá uma sensação de plano concretizado, sonho realizado, projeto efetivado. Paz e não saudade.

O trânsito sempre pesado para não perder o hábito por isso a sempre opção de caminhar ou de usar metrô. Olho atentamente como que para decorar cada nuance da cidade, cada particularidade dos telhados, das construções antigas, dos quatro andares que insistem em se repetir a cada esquina com raras exceções.

Nos carros velozes, muçulmanos, africanos, indianos vestidos a caráter, lutando contra a aculturação, preservando suas identidades, modos e costumes.

Quase três horas depois a autoestrada imponente, ultra sinalizada, um tapete. Seguimos em direção primeiro a Espanha. Cochilo, acordo e o indiano ao meu lado ensaia uma conversa que começou ainda no embarque. Ele não fala francês e o inglês é resumido, mas repito com apoio de gestos até que entenda minhas respostas.

Jovem, está a 18 meses em Paris, trabalha em Montparnasse em um comércio. Vai para Lisboa em férias e animado pergunta minha idade. Quando respondo 50, vejo que seu olhar obscurece triste. Sorrio mentalmente e me pergunto: Será que ele acreditava que eu carregava quantos anos de vida?

O ritmo da conversa diminui. Ele pergunta se tenho filhas. Respondo que sim e marido também. (rsrsrssr).

Pela madrugada fronteira com Espanha, os policiais entram pedindo passaporte. Quatro pessoas não possuem o documento. Estão apenas com declaração de residência de Paris. Dois indianos, um deles meu vizinho de poltrona, 01 nigeriano e a cabo verdiana que chora, faz barulho, diz ter problema com a embaixada e o policial pergunta: “se em problema com a embaixada para que sai do seu país?” Ela silencia e o ambiente fica tenso. Todos os passageiros ficam incomodados e comovidos com a cena de retirada das pessoas do autocarro. De fato é triste, mas a lei é clara: para entrar em outro país qualquer o documento passaporte é imprescindível.

Depois do ocorrido a viagem segue e os comentários também agora já não tão comovidos, pelo contrário, críticos e irônicos.

Fico sozinha na poltrona, deito e durmo um bom tempo até a próxima parada na garagem da empresa para o abastecimento de gasóleo. Saio do autocarro, vou á máquina de café e vejo que tem uma opção nova: “caldo”. Mesmo sem saber, escolho essa opção e não me arrependo. É um caldo bem temperado, delicioso que desce quente pela minha garganta, aquecendo meu estômago e vida.

Amanhecemos ainda na Espanha e chegamos a Lisboa na Estação Oriente atrasados em 01 hora e 30 minutos. Ando pela Estação também me despedindo e quando avisto o autocarro 750 corro deixando casaco para trás. Um gentil americano vem ao meu encontro com o casaco na mão. Agradeço e sigo meu rumo.

Chego na residência e a festa do reencontro com os meninos, Jacqueline e companheiras de quarto Celina e Filomena é maravilhosa. Um grande almoço é servido para todos pela turma querida de Guiné Bissau. Sai da festa antes da hora para cumprimento de agenda com Katielle que reuniu pessoas queridas para mais uma despedida. Lá conheci a Clélia, Didi, Cesar, Hassana, Paulo, maravilhosos. Papo bom, cheio de energia e enfim uma noite maravilhosa que termina a meia noite e meia.

Dia seguinte, hora de ir ao correio, percorrer Lisboa e suas ruas encantadoras. Baixa, Restauradores, Marques do Pombal, Picoas, República, São Sebastião, acenando com o coração para a terra que me guardou por quase três meses de forma tão carinhosa.

Na minha despedida as 6 da manhã (hora que decidi ir para o aeroporto para chorar menos), o forte abraço e Abiodun meu querido amigo nigeriano, Gilberto angolano, um filho do coração, ambos descendo uma mala de 32 kilos, repleta de livros e outra menor inaugurada na Suiça. Abraços, lágrimas furtivas, o táxi com um simpático motorista que entende a gravidade do momento, sorri e nos afastamos dali suavemente, olhando os dois em pé na frente da residência, como que para não romper o vínculo criado com essas duas criaturas tão queridas para mim, amigos e parceiros de sorrisos, compras no Continente, limpeza de cozinha, refeições e longas conversas.

Aqui na Universidade de Lisboa deixo uma família de colegas e professores (as) especialíssimos. Na residência deixo meus amados angolanos, nigeriano, guineenses, portugueses e a valorosa equipa de Dna Manoela e Dna Elisabete, pessoas lindas que me receberam com carinho enorme na Fundação Cidade Lisboa a qual recomendo para quem for estudar em Lisboa e quer ficar em um lugar Central com acesso imediato a todos os transportes.

Mereço muito menos, mas Deus sempre me dá muito mais que preciso.

Obrigada a você que participou dessa linda trajetória que considerei um dos melhores presentes recebidos na minha vida, às pessoas que entrevistei para a pesquisa, às Secretarias da Universidade de Lisboa tanto de História quanto do CEG, às professoras Angela, Elisa e Margarida por me terem concedido o privilégio de participar da pesquisa no Riskan e enfim conhecer pessoas valorosas.

Obrigada às minhas Orientadora e co-orientadora da UFES, as Instituições brasileiras que viabilizam e parcerizam custos dessas importantes iniciativas.

Obrigada às minhas famílias de Lisboa, Genebra e Paris. Obrigada aos meus colegas de distintas nacionalidades do curso em Paris, vocês são maravilhosos.

Obrigada a você que lê sobre essa experiência e compartilha com outras pessoas, fazendo chegar ao coração de quem não crê que para viver, realizar sonhos não há faixa etária. Basta estar vivo, querer e procurar meios de realizar.