Ciao 2018

Doze meses, trezentos e sessenta e cinco dias, chegando o encerramento de mais um ciclo. A primeira coisa que me ocorre, é que tive saúde para viver um dia de cada vez, e por isso me alegro pois saúde é riqueza pura.

Embora muitos sintam respostas não  tão aprazíveis no corpo dado o volume de atividades, complexidade das responsabilidades e altíssima exigência a que se impõem, visando desempenho excelente.

O fato é que o tempo passa, por mais que tenhamos a sensação de controlá-lo, o tempo nos deixa a ver navios, pássaros, aviões e planos não realizados. Inúmeras são as razões, motivos, desculpas: postergação, auto-engano, auto boicote, sabotagem, distrações e desconexões conosco.

A famosa parada para ler nosso plano de vôo do ano que se despede, traz alegrias para alguns e frustrações para outros que constatam como se distanciaram dos seus planos por pequenas distrações, as quais, pareciam totalmente inofensivas. Sem perceber seguimos em uma direção que não é a que escolhemos, tampouco a que gostaríamos.

A sensação de conquistar, superar, alcançar, atingir o alvo é como sentir o afago da brisa na face, um abraço afetuoso, um sorriso cúmplice quando chegamos em um lugar onde o “estranho” reina.

Por isso é tão importante estabelecermos metas alcançáveis, superáveis,  conquistáveis se ficar melhor e mais claro. Fazer uso das nossas forças, do nosso potencial, do que já temos, torna possível, viável nossa jornada.

Mas, temos um hábito irracional de buscar de formas mais impensáveis, a realização dos nossos planos e projetos. Seria essa conduta, um padrão apreendido, assimilado para justificar o que, porque? Há que se fazer a dor resplandecer, o sacrifício existir? Será mesmo?

Observo algumas vidas que passaram e se mantiveram por mais de quinze anos ao alcance do meu olhar e sentir. Tais vidas me proporcionaram imenso contentamento, pois acompanhei a dedicação, a paz com que algumas pessoas terminaram seus estudos, se relacionavam com a família, estruturaram relacionamentos com vínculos sólidos, constituíram suas famílias e mantiveram suas amizades do Ensino médio. Cada passo, avanço de forma plácida.

Outros sujeitos se desgovernam tanto, se envolvem com pessoas que as distanciam dos seus objetivos,  participam de cursos que não aplicam, mentem para si mesmos, acreditando e sem perceber que suas atitudes os/as levam para lado contrário do seu projeto de vida, do seu propósito.

E o que fazer? Nada complexo, mas requer um esforço extra, além de muita atenção. 1) Definir claramente onde quer chegar; 2) Estabelecer rotinas e fazeres que pouco a pouco o/a leve na direção onde quer chegar; 3) Ter a máxima atenção e pensar antes de concretizar decisões, fazer escolhas; 4) E o mais importante: saber dizer não, priorizando a si próprio.

Difícil? Sim…Sem dúvida. Porém, cada um de nós, devemos pensar em nós próprios, fazer o melhor para nossas vidas e aí sim, o milagre de Natal ou qualquer outro, acontece. Para cuidarmos de outras vidas, é essencial sabermos cuidar das nossas vidas de forma íntegra, com responsabilidade, sobriedade e pragmatismo.

Que esta última semana cada um de nós possamos estimar no máximo três objetivos a serem alcançados, dentro do que sabemos ser nossas forças. Uma dica: seja realista (buscar olhar uma situação de várias perspectivas, considerando o que seja fatos e não inferências, achismos ou inferências). Qual peixe você quer pescar em 2019?

 

FOCO versus DISTRAÇÕES

Texto elaborador para o Jornal A TRIBUNA 11/2018 – Demandante: Kayque Fabiano – kayquenicolau@hotmail.com

Foco e distrações. Hoje mais que nunca, pensamos em uma forma eficaz de como mitigar esse problema. Na década de 1980 o Brasil, alguns de nós cidadãos tivemos acesso à possibilidade de acessarmos um volume significativo de informações e apenas na ponta dos nossos dedos.  A princípio, o encantamento sobreveio e hoje temos tantas direções, tantos estímulos, que perdemos o rumo.

Nas estradas, nos transportes, nos supermercados, feiras, pais passeando no calçadão com os filhos, o uso do celular  ilimitado, debilita e cria situações de altíssimo risco para nossa segurança e vida.

Sou professora e lamento quando vejo um graduando absorto no WhatsApp, Face ou outro canal de comunicação qualquer. Pontuo sempre em sala de aula que a Física deixa claro que: o corpo ocupa um espaço, um único espaço, portanto não temos como estar vivenciando duas, três experiências ao mesmo tempo. Dessa forma quando se está em sala de aula, estudando, depois de ter estabelecido um objetivo que é graduar; passear pelos inúmeros grupos que demandam cumprimentos, pequenos vídeos, últimas fofocas, notícias, me parece incongruente.

Pesquisas confirmaram que o hábito exacerbado de acessar redes sociais, torna-se vício sim.

Quando o sujeito não consegue gerenciar a contumaz vontade de passear pelas redes sociais e precisa estudar, a única saída e mais salutar é de fato desconectar-se, criar horários e, na minha visão, sobretudo, priorizar-se. Sim, isso mesmo, priorizar-se. Dar a si e aos seus objetivos importância, relevância e de novo FOCO, um aspecto, inclusive tratado na Psicologia Positiva, um movimento recente no âmbito da Psicologia que destaca e busca enfatizar os aspectos saudáveis do sujeito.

A sensação dos candidatos de estarem “perdendo alguma coisa” ou “por fora do que está acontecendo”, de fato é por previamente já se sentirem excluídos, acreditando que precisam se esforçar para serem vistos todo o tempo. Seguem o ditado do senso comum: “quem não é visto, não é lembrado”. Imaginem uma pessoa que se magoa por não ter recebido LIKES. Causa estranheza esta condição de afastamento de si mesmo, de fragilidade identitária e desprezo pela sua existência.

As tecnologias vieram para encurtar distâncias, facilitar acesso às tantas informações e possibilidades, mas de novo para que a utilizamos? Para nada. Tenho alunos que me perguntam coisas que, acessando o dicionário PRIBERAM conseguiriam descobrir, mas não. Os dedinhos não funcionam para tal trabalho hercúleo. Mas para saber onde vende o brinco que fulana da TV usa, aí é rápido como flash.

Penso que cabe a pessoa avaliar até que ponto consegue gerenciar, e se assumir sua fragilidade nesse sentido, a escolha é afastar o celular e estabelecer um período de tempo para dedicar totalmente aos estudos, visando sempre a construção da sua profissão ou condição profissional.

Para fazer GOL, precisamos nos livrar dos dribles e obstáculos que vem na nossa direção, assim é quando desejamos alcançar uma condição diferente da atual. Avante e adiante.

Ser escravo de qualquer que seja o “hábito excessivo”, nos distancia dos nossos mais importantes objetivos.

Tempo, o que fiz, com e para ele?

Estava convicta de que o último post havia sido ´publicado em torno de Junho e Julho e eis-me aqui, assustada…surpresa e exagerando mesmo: horrorizadaaaaaaa.

Cinco, quase seis meses passaram e nada compartilhei. Como ser escritora sem escrever? Impossível!

Outra pergunta importante seria: é fato que não haveriam palavras significativas ou meramente cotidianas neste espaço de tempo?

Definitivamente simmmmm. Muitos eventos, olhares, energia investida, surpresas, frustrações, distanciamentos, aproximações, ganhos, perdas, sorrisos e lágrimas, Tudo muito intenso e denso, a ponto de extinguir toda a vontade de escrever. Uai, mas não seria exatamente o contrário? Sim, óbvio.

E o que aconteceu, para o que deveria ter acontecido, não acontecer?

Priorização equivocada? Ausência de tempo? Muitas prioridades? As questões elencadas não satisfazem, tampouco justificam a questão mor.

Ocorre que existe algo, chamado esquecimento (não foi o caso), e outra denominada preguiça (também não foi o caso), mas a importabilidade (palavra nova, aproveitando a onda d@s “lidade” a saber: sustentabilidade, alterabilidade e assim por diante…). A habilidade de dar importância ao que tenho como fragmento, ou melhor perspectiva de uma vida profissional, uma caminhada, trajetória, percurso (pura sinonímia).

De agosto a outubro, enquanto professora – sete disciplinas para lecionar às terças até sextas a noite; quintas e sextas pela manhã e mais preparo destas aulas, estudos, trabalhos, lançamentos de notas e faltas. Enquanto aluna – cinco disciplinas para ler, preparar seminários em observância ao projeto de doutorado.

Consultório as terças e sábados, palestras, treinamentos e consultorias realizados e em processo. Ah…e as participações (análises, palestras, cursos, seminários, colóquios) para reciclagem contínua, muito importante para o currículo Lattes, sobretudo neste momento de pontuação e créditos.

Além dos papéis profissionais acima mencionados, temos ainda o papel da mulher cidadã, mãe, esposa, amiga, filha, sobrinha, colega de turma.

Este post é uma ação muquerelante? (nomenclatura apresentada à mim pela Cristina Santos quando juntas atuávamos na Escola de Governo). Um mixto de murmúrio, queixa, reclamação e lamúria?

Não, definitivamente não. Esta postura não faz parte do meu modus operandi (modo de viver e operar). Mas sim uma constatação que faltando atenção ao FOCO, ao objetivo maior e que pode ser fatiado em pequenas porções e bocados, nos colocamos em uma situação de ampla vulnerabilidade e automatismo para com nossas vidas.

E é isso que importa, aplicar a importabilidade (não no sentido de portabilidade de conta telefônica, conta bancária, etc…), mas de dar importância ao que  de fato tem importância.

Desta forma posso instituir uma rasa análise: investi imensa energia em algumas ações que no momento não se mostraram frutíferas. Mergulhando mais na intenção das sucessivas ações não exitosas (alcance do objetivo), observo que me situei de forma esquiva e fugindo de situações que não apreciaria confrontar sem antes preparar-me par as consequências.

Neste sentido o postergar, tornou-se uma estratégia eficiente de ajustamento e adaptação social, frente aos temas que vinha entrando em linha, em contato.

Convido portanto, cada um de vocês a investigar nas suas intenções e ações os motivos pelos quais buscam quais ou tais caminhos.

Ótima segunda quinzena de outubro.agenda-lotada-funil-de-vendas-coach

Geração papel – botox ou ambas?

Conhecida pela forma “dura” de ser. Por inúmeras vezes fui e ainda sou percebida como pessoa “dura”. De fato, mais jovem, minha expressão era cortante. Não media e nem pesava o peso das minhas expressões, palavras ou atitudes. No senso comum esta conduta representava a não preocupação com o sentimento alheio. Nos dias atuais, considero precisa, firme, resolutiva.

As palavras saiam do meu cérebro para o ambiente sem filtro algum. Eram lançadas frente ao susto e indignação de quem as ouvia. Sou fruto da geração que professor respeitava mas exigia dos seus alunos a fazerem sempre melhor, que tirar notas boas eram minha obrigação; acordar cedo, arrumar cama, lavar pratos, varrer casa, tirar teias de aranha dos cantos dos cômodos, lavar banheiro, lavar roupas, além de ser educada, gentil e prestativa com os mais velhos eram atos considerados naturais de se exigir de todo e qualquer jovem.

Me pergunto, quem não sobreviveu a essa condição? Na contemporaneidade observo absorta, a comunicação ao alcance da ponta dos dedos e ainda assim jovens perdidos sem saber qual a direção tomar nas suas vidas; a liberdade de assimilar a orientação de gênero e concomitante um imenso sofrimento para apreender no seu cotidiano tal orientação; a liberdade de se desonerar de uniformes e tudo que ponha em risco sua singularidade e ainda assim a  obsessiva busca em seguir padrões estabelecidos pelas suas tribos e ainda por outras culturas…

Vendo a vida por meio de uma lente de celular é a forma mais contemporânea de  contemplar o entorno. Interessante, chocante e  assustador. Este é um ensaio brutal para vivermos sem conexão com nossa essência. E estamos indo bem. Correspondendo satisfatoriamente a quem possa interessar.

Em pleno século XXI, no Brasil, palco de tantas lutas, sofrimentos, opressão, jugo além de sucessivos roubos contra a Nação, não podemos, sob pena de forte acusação sermos precisos, objetivos e diretos. Uma frase precisa vir recheada de poréns, contudos, entretantos para não ofender, matar a alma e desestruturar o interlocutor, seja nas famílias, grupos de trabalhos acadêmicos ou mesmos nas empresas que desejam faturar mais de 90 milhões.

Imaginem quão paradoxal é, viver combativamemente em busca de resultados e ao mesmo tempo docilmente para não ofender, mesmo que seja com sua alegria e realizações, o outro que não consegue sair do lugar?

Que geração é essa que não aguenta ouvir o detalhamento das ações que protagonizou, muitas delas, de uma incrível miopia, falta de leitura do contexto, ausência de discernimento e infantilismo?

Em treinamentos e palestras que realizo, destaco a importância de nos apropriarmos dos fatos, fazendo uma leitura precisa do ocorrido além de “malhar – fortalecer” nossas respostas emocionais e reagir de acordo com nossa idade cronológica que deve, na pior das hipóteses, concordar com nossa idade emocional e situação funcional.

À criança e ao idoso é compreensível e até permitido desorientação, ausência de foco e equilíbrio, pavor de ficar sozinho e o sentimento de incapacidade para realizar grandes façanhas, pela condição física, mental e as vezes financeira, e ainda assim, eles nos surpreendem e realizam continuamente, Se superam mesmo.

Os adolescentes de hoje chegam a alcançar a quarta década de suas vidas, preservando esta condição e para alcançarem a condição de adultos nadam, nadam e literalmente bóiam, desperiodizados da sua cronologia.

Geração papel por se rasgarem frente a qualquer obstáculo ou vento mais forte e geração botox por terem a capacidade de imprimirem nas suas faces o sorriso mais primoroso, mesmo frente a eventos tristes, nocivos, para posts nas redes sociais.

Verdade ou mentira; fato ou inferência; confronto ou recuo; feedback ou dissimulaback? Como entender qual ferramenta usar, quando e com quem? Observar é condição sinequanon para termos estas respostas.

Perceber se o adulto é adulto e fortificado para o que a vida apresenta requer olhar e silêncio. Estou convicta de que a verdade dá menos trabalho, a resolutividade é menos desgastante que jogos, articulações e construções ilusórias ou mesmo a projeção das responsabilidades por mazelas e desencontros no outro.

Assumir o que se faz de aceitável ou não é libertador. Aprovações e reprovações, amores e desamores, harmonia e distanciamento depende de cada um de nós ou um consenso entre as partes que se querem manter apartadas.

É assim, simples. Duro ouvir, pois é o fato. É bem confortável, dizer que não aconteceu pois não era para acontecer. No entanto, ao fazermos uma acurada análise, podemos notar, se desejarmos, o que faltou, no que não caprichamos ou investimos de forma adequada.

Ótima reflexão!

 

 

 

Aos regidos por Marte…

Iluminados, alegres, valentes, bravos…metidos até a tampa do cérebro nos sonhos que são inúmeros. Repletos de planos: A, B, C, D…até Z.

Movimentam o espaço onde chegam, fazem todos se deslocarem para cá, para lá. Dá pitaco aqui, ali, acolá. Quem suporta?

No meu universo tenho o privilégio de ter uma tia, chamada Luíza, absolutamente intragável de alegre, bonita, luminosa, com corpinho de 15 e sorriso dos felizes. Quando a vi triste? Algumas vezes, mas ela jamais aceitou de bom grado ou admitiu. Enxergava pela sombra dos olhos, pela profundidade das olheiras, mas jamais pelos seus lábios que teimavam, nestas ocasiões, sorrir escancaradamente.

No aniversário dela, aos 25 de março junto ao de tantas outras pessoas que tenho profundo carinho, tantos poderiam ser o presente, mas para essa jovem regida por Marte busquei na história dela, algo que não a vi ter.

As minhas memórias trazem imagens: eu bebê, ela jovenzinha de cabelos amarrados em um rabo de cavalo, com pernas cruzadas na altura da panturrilha, assentada no braço da cadeira.

Um aparte para destacar a riqueza do nosso idioma tão cheio de símbolos, palavras dúbias e metáforas: amarrados, rabo de cavalo, cruzadas, braços de cadeiras…fascinante!

Mas, voltando à minha tia, poderia ser uma viagem à Europa, um apartamento, uma bicicleta modelo 1960 ou o anel de formatura ouro com ametista pois logo, logo ela graduará em Pedagogia. Pensei, repensei e decidi por algo inusitado: uma boneca de pano Frida Kahlo (feita por Bárbara Borges de Porto Alegre, uma filha que a vida me concedeu pelas mãos de Deus).

Voltando a boneca estilosa e cheia de personalidade no olhar, tal qual Frida ou minha tia que dribla os eventos pesados da vida com ironia e sorrisos.

Desde pirralha, ao visitar a casa de recém casada da tia Luíza,  no Pontal, inebriava-me com o cheiro das iguarias e me deleitava com sabores únicos. Neste lugar jamais vi nenhuma menção a sua infância e à medida que crescia em idade (pois em tamanho não avancei muito), me perguntava como havia sido a infância da tia Lulu (Maria Luíza)? Os vestígios, indícios, pistas nada me diziam.

E eu como lunar em Marte, intrometida mesmo, compreendi que uma boneca de pano seria um presente representativo da infância não vivida, ou vivida focada nas responsabilidades de aprender, entender, abdicar, adaptar-se à saudade, a falta do colo materno, do convívio com os irmãos e irmãs, a pequena de dentes grandes que ansiava fazer parte importante do universo de onde ela tinha sido retirada dos 7 aos 12 anos. A psicologia diria que fase essencial para o delineamento das emoções e sentimentos. Ela cortou, alinhavou e costurou do jeito que era possível e ainda hoje arremata e amealha frutos desta escolha.

Ela tem superado com valentia os obstáculos externos e sobretudo os internos, os que nos amarram e puxam até o fundo do nosso ser. Penso que a complexidade está em enfrentar tais fantasmas, os que se escondem no fundo da nossa alma…tão amedrontadores, ameaçadores e envolventes. Tão envolventes que levam inúmeras pessoas ao precipício do suicídio.

Não os regidos em Marte, pois estes são briguentos, irônicos, depreendem energia para cada uma das suas batalhas.

Frida, Aírton Sena que aniversaria hoje (1/04) e Luíza não adotaram nem adotam postura diferente. Enfrentam, rasgam seus sonhos nos ouvidos dos outros e quem quiser de bom grado cooperar, que cooperem, problema deles (as). Seguem adiante com o olhar manso, profundo e confrontativo. Mostrando que a pista tem pontos de ultrapassagem sim senhor, como Sena fez, contrariando especialistas várias vezes.

Vivem o calor e a luz do sol, o fazer com alegria, profundidade e de forma marota, como toda boa criança que leva um não dos pais ao encostar o dedinho na tomada elétrica e quando os pais o encaram, vagarosamente levam o dedinho na direção da tomada para se divertirem com a agonia dos pais.

Regidos por Marte…pela vida, pela luz, pela coragem e ousadia. Estes são Frida, Sena e minha amada tia Luíza.

 

 

 

2018 – Enfim dá seus primeiros passos…

Após o Carnaval o ano inicia de forma vigorosa, com todos os seus tributos e desafios. Aulas iniciando, agendas assoberbadas de compromissos sem fim que muitas vezes não levam seus donos ou donas a nenhum lugar. A necessidade de fazer mais e mais dinheiro, mais e mais patrimônio, mais e mais entulho guardado nos tantos metros quadrados ocupados de um espaço chamado: LAR que talvez não seja tão doce como os humanos apreciariam, visto que muitos não conseguem desfrutar, ter paz ou mesmo produzir.

Ano após ano, trabalha-se por necessidade ou por escolha. Não são poucas as vezes que se torna a maratona incansável, criando e sustentando um personagem que ao sair de cena, embebeda-se, se mutila, desgasta-se, se destrói nas ilusórias exigências a que se submete dia a dia.

Objetivo, meta, propósito, sentido de vida? Sim, sim, sim. Cada um desenha o seu próprio, usando estratégias, ferramentas, instrumentos que apreendeu ao longo da sua vida ou dispõe desde que entrou em contato com o ambiente e consigo mesmo.

Descolar, desapegar, desonerar-se do que a sociedade nos impõe ou que nos impomos (in) voluntariamente?

Nossa imaginação cria obrigações ilusórias, além das que concretamente possuímos, a de ter que ter para compensar o ser que gostaríamos de apresentar no palco da vida. Como? Simples: Podemos viver em um espaço confortável para duas pessoas de talvez setenta metros quadrados, mas ansiamos por ter duzentos metros, decorados e caprichados de forma que quem chegar fique deslumbrado, desejando ter situação semelhante.

No âmago, o desejo é de ser aceito, pertencer, destacar-se. Qual o preço se dispões a pagar?

Fazendo de conta…Ser adulto é para espertos, fortes ou apenas adultos?

Barbas espessas, paletó de bom corte, pernas cruzadas, gestos contundentes ou saltos altíssimos, roupas que dão um ar senhoril, qualquer estratégia vale a pena.

Lembro de que, aos 21 anos, quando dava meus primeiros passos em funções executivas nas empresas, envergava roupas diferentes da minha jovialidade, a escova era o melhor penteado, saltos altíssimos e claro, a moderação do sorriso para ser mais credível foram alternativas viáveis que de certa forma me tranquilizaram diante dos obstáculos que precisava ou acreditava ter que superar.

Essa questão nos captura, nos sequestra quando a partir da idade legal (18-21) precisamos fazer de conta que crescemos, sabemos com propriedade dos assuntos e compreendemos tudo o que nos dizem ou apresentam.

Afinal, o que é ser adulto, do que se compõe a adultez? Tutankamon, faraó menino do Egito aos 14 anos, foi o último faraó da 18 dinastia. Morre aos 19 anos. No curto período  de tempo que esteve à frente do reino, realizou grandes e importantes obras.

Tenho repetido nos relatos, palestras e aulas que a idade da virada é 25 anos, metade de 50 (meia idade). Ou você direciona sua vida ou desperdiça tempo mesmo. As pessoas frustradas costumam dizer que  “não era hora” quando algo não dá certo. Costumo pensar que não houve preparo adequado e a pessoa está em dissonância com a idade dela. São os famosos adultos infantis ou adolescentes que não apropriam sua energia adequadamente. De fato observação, atenção e foco são ingredientes indispensáveis na caminhada chamada vida.

Até os 30 anos, via de regra, algumas pessoas, vivem meio que no automático, sem dirigir sua vida.  Faz-se de conta que se controla o incontrolável: o meio, as modas, tendências o estabelecido e ponto.

Nesse furdunço de aspectos e dimensões, as verdades, inferências e fatos se avolumam, tomando conta das mentes que angustiadas se preocupam em cumprir um roteiro estabelecido.

Meio século nos faz compreender, com algumas exceções, é claro, parte do que seja essa coisa chamada VIDA, CENA, PERSONAGENS, CONTEXTO E DEIXAS.

Alguns exemplos na linha do tempo: o homem recebe o papel de provedor, responsável pela família e passível da vida pública; já a mulher rainha da vida privada, responsável pelo bem estar da sua família, pelo bom funcionamento da casa e orientação dos filhos e os idosos respeitados pela experiência que traziam nas suas histórias. Hoje as crianças exercem papéis de mini executivos, com agenda apertada, precisando ser mini adultos, se defendendo dos adultos sequelados que não dão conta das suas responsabilidades, enfim. Papéis estes que hoje são desconstruídos, desarticulados e delineados de forma diferente. O que gera desidentificação, ausência de lugar e onde projetar, se perguntam, os holofotes, em qual área da vida?

Nos dias atuais, acompanhamos crianças adultas, jovens anômalos, adultos infantis, idosos adolescentes em um exercício mórbido de ser. Postergar, antecipar, enfim parecer diferente do que não se é. Absoluta dissonância cronológica, emocional e física.

Limites, fronteiras intergeracionais se desfazem diante de nossos olhos. Será que nessa circunstância o jovem se vê semelhante aos adultos maduros ou vê adultos maduros semelhantes à eles?

Para se configurar a adultez torna-se insuficiente: os títulos, a marca do carro, celular, local de moradia, qual salão frequenta, que escolas estudou ou países estudou visitou, tampouco griffe da indumentária, menos ainda da linhagem a que pertence.

Há que se ter estrutura emocional para suportar de forma adequada as tensões, frustrações, embates típicos da transição menino (a) homem/mulher.

As doenças, transtornos, síndromes e distúrbios emocionais que reverberam nas atitudes, escolhas e decisões são parceiras do “faz de conta” a que muitos se submetem nas cenas de vida, playbacks, pinturas e fragmentos da sociedade que vão e vem, se alternam em um pedido agudo intermitente de SOCORRO.

O faz de conta na entidade criança é esperado, apropriado e essencial. O imaginário pede licença para se apresentar, existir e por fim, passar para nossa alma em forma de competências e musculatura para abstrações, frustrações, revisões e superações.  São os SE-NÕES de toda uma vida.

 

Ciclos redondos, quadrados, pontiagudos, interrompidos, resolvidos…

20170421_160706Um dia nublado, o vento gélido nos convida a recolher o corpo em casa. Diferente do pensamento que vasculha as teias da memória, trazendo momentos significativos onde a borboleta que habita na nossa alma de novo e de novo metamorfoseia.

Me transportei para Ilhéus, três anos de idade, no dia em que meus pais no quarto, antes de dormir, convenceram-me que faria um bem enorme se jogasse minha chupeta, a um bicho chamado jacaré. De muito boa vontade lancei a chupeta ao pobre animal. Final de ciclo da vida com chupeta. Mas as marcas foram preservadas por meio da arcada pronunciada por muitas décadas. Assim ocorre com toda sorte e qualidade de mudanças vividas.

1968, ônibus da São Geraldo, sucos de laranja, tangerina e uva em plásticos no formato das frutas. Eu saboreando uma dessas, sentada no degrau ao lado do motorista em intermináveis conversas recheadas de perguntas sobre a vida dele, a estrada, os passageiros e sobre o atrativo sanduíche na parada de São Mateus, derramando queijo por todos os lados do pão na chapa chamado queijo quente, o qual não existia na minha realidade. De Ilhéus para o Rio de Janeiro, uma nova etapa da minha vida: Olinda – Nilópolis-Rio de Janeiro quando a Beija-flor ainda engatinhava.

Ditadura, Diretas Já…1972…Paz e Amor. Uma paz que se distanciou dos meus dias. Deixei de ter o convívio em família, mudando de região e cidade. Conheci uma vida repleta de primos e primas, a beira da maré, manguezal, caranguejos, canoas, machucados e uma saudade doída, cortante que minha tão pouca idade e tamanho não sabiam dimensionar ou gerenciar.

15 anos, fuga de casa por um dia, com retorno a noite. Vestido branco com fitilho azul, tamancos brancos e altos. Muitas pessoas, chocolate quente, bolo de coco, pipocas, sanduichinhos e sacanagem (azeitonas, tomates, pimentões queijos e salsichas picados e espetados em palitos). Minha avó paterna e tias fizeram tudo de forma simples, mas com muito esmero. Não deixaram passar em branco a comemoração de uma vida. Profunda gratidão.

Não sabia ainda que retornaria ao Rio de Janeiro para dividir teto com minha mãe-drasta. Tão jovem e com tamanha responsabilidade e valentia.

Mudanças radicais são constantes na minha vida e as recebo de bom grado sem espernear, reclamar ou resistir. Quando elas surgem no horizonte as acolho e vagarosamente saboreio.

Dizer que não tenho medo, que meu estomago não resfria e que minhas pernas não tremem, seria falácia. Sinto tudo e mais um pouco. Deixo vir, avanço sem olhar para trás e dou o passo necessário para seguir. Marcas leves, profundas, cicatrizes me levam para outro estágio da vida. Mais maduro, seguro, puro ou não.

Amores, dissabores, horrores todos nós vivemos ou assistimos. No entanto, o fruto dessas experiências nos faz pensar, agir e sentir diferentemente a cada período das nossas vidas. Diante desse fato podemos adotar posicionamentos distintos: de problematização ou resolução; de dor ou alegria; de fuga ou enfrentamento; angústia ou deleite.

Mudanças são importantes, necessárias e inerentes a vida de um ser humano. Quem resiste sofre. Quem acolhe vive os ciclos encerrando, outros debutando, os cabelos platinando; as marcas faciais chegando, as articulações enrijecendo, o ritmo e movimentos lentificando, o cérebro esquecendo, as lembranças se apresentando com mais constância. A vida é um conjunto de idas e vindas, vôos e recolhimentos, conquistas e despedidas. Portanto, apenas VIVA.