Mulher, quais teus dias?

Olho para minha imagem e busco cintura fina, mamas empinadas, coxas roliças, mais de um metro e sessenta e não encontro. Investigo se possuo uma capa ou braceletes com poderes, e não os enxergo. Pelo contrário,sinto compressão na dorsal, fruto de horas de estudo e trabalho, estrado unhas manicuradas por apreciar cozinhar para minha pequena família e sou incompetente para receber muitas pessoas. Me confundo por querer dar a mesma atenção a todas. O máximo que consigo é acolher para uma boa e magra mesa de café, pouquíssimas pessoas que considero amigas, leia-se, pessoas que participam de verdade da minha vida. O que significa o “de verdade”? Bem, são pessoas que conhecem com riqueza de detalhes as minhas dores da alma, as decepções que me fortalecem e as frustrações que me impulsionam para avançar.

Por outro lado, tenho inúmeros colegas, parcerias para trabalhos, conhecidos e clientes mais que queridos. Sou comum, como a maioria dos mortais “normais”, que aqui significa saber e aceitar a finitude. As minhas ações não se concretizam por intencionar ter ou ser exclusiva de nada nem de local ou pessoa alguma, mas para realizar meus sonhos que se tornam projetos onde estabeleço metas com prazos para que, uma a uma eu as concretize sem tomar ansiolíticos ou antidepressivos. Se já me frustrei? Nossa, perdi as vezes precisei recomeçar e colocar tijolo sobre tijolo ou destruir paredes internas do meu ser para enxergar melhor os equívocos/erros cometidos.

Ter um sistema reprodutor feminino me faz apenas ser mais cuidadosa para não pegar peso e sentar em lugares muito quentes, o que não retira a força da vida que carrego. Tenho a noção exata das minhas habilidades emocionais e sociais, do meu poder de articular, contribuindo para um tecido social saudável (palavras emprestadas da Angelita Scárdua na palestra Declínio da Mulher 07/03/2020 Espaço Nuvem Sublimação – VV). Sei da minha absurda atenção difusa e assertividade, então obviamente aplico mais adequadamente tais competências.

Quando nos conhecemos mais e as nossas verdadeiras intenções, nos tornamos seres humanos queridos ou rechaçados, agregadores ou ameaçadores, depende do seu interlocutor. Entretanto a questão aqui é ser mulher! Historicamente, e sempre defendo esse fato, fomos, somos e seremos exemplo, inspiração e referência. Não fosse assim, por qual motivo ser mulher na atualidade tornou-se alvo de muitas pessoas? Sentir como mulher, vestir-se como mulher, ser acolhido como mulher? Mas como ser mulher saudável, almejando ser e ter atributos de homem?

São muitas as questões que permeiam essa discussão, esse debate invisibilizado por séculos na humanidade, porém esta condição não é nova! Novo é a sociedade ser convidada a iluminar esse tema e de certa forma olhar nos olhos sem desviar destas questões. Ser ou não mulher nos remete a questões essenciais: nos aceitar, às nossas fragilidades e reconhecer nossa importância e responsabilidade histórica e por isso, visto bem esse traje, o de mulher. Por ser em essência, corpo e mente mulher, pude chorar todas as lágrimas das perdas que tive, pude sorrir todos os sorrisos dos meus sonhos realizados, desmaiar todas as minhas vultuosas frustrações, me encolher diante dos medos e recuar ao perceber quão significativos seriam os erros ensaiados, sejam escolhas ou decisões.

Que dia 8 de março, seja para você, o que representa o número 8 na horizontal: infinito, fluxo, equilíbrio.

Profissionais do conhecimento, não são SANTOS, para viverem de promessas!!!

Para ser convidado a fazer uma palestra, é preciso ter um bom currículo, contudo, na nossa cultura é comum, a promessa de um grande projeto para que o profissional flexibilize e faça uma palestra ou mesmo um bate papo gratuitamente, cingida da frase despudorada e de efeito: “mas… para essa ação, estamos sem verba!”

A titulação alcançada, a condição profissional diferenciada, por meio de dedicação significativa, investimento financeiro e de tempo, no nosso país são desconsiderados pelo anfitrião na maioria das vezes.

Não, não é errado, tampouco pecado ter o melhor palestrante, o mais credível que garantirá eficácia e resultados. O esforço e investimento na educação no Brasil é tratada desta forma no cotidiano empresarial, excetuando-se quando trazem alguma celebridade midiática, catando, se for o caso, até os últimos tostões dos cofres. Ocorre que tais estrelas desconhecem nossos costumes, prioridade e a dinâmica do nosso Estado.

Por esse, dentre outros tantos motivos, recomendo aos acadêmicos que jamais atuem sem serem remunerados, pois além de não serem remunerados, dão a entender que seu tempo nada vale.

Para colaborar, quero explicar aos leitores que uma simples palestra pode demandar até 20 horas de trabalho caso precise de uma pesquisa mais aprofundada. As etapas são:

  • Delineamento da demanda (organizar o que ouviu junto aos demandantes);
  • Pesquisar autores que afinizem com o tema e fundamentem a fala;
  • Buscar imagens que colaborem na absorção dos conteúdos, comungando a fala à demanda;
  • Verificar em quais pontos podemos atingir de forma eficiente o público mais visual, auditivo ou cinestésico;
  • Marcar pontos durante a fala, onde podemos dinamizar, propor movimentos ao público, o qual cooperará para a consolidação da fala, ou seja, dar corpo à teoria, e por fim: a preparação (horas de pesquisa e elaboração do material), o deslocamento (combustível ou aplicativo), apresentação em si de forma bela e atrativa (trato no visual, do salão à indumentária), da bolsa ao computador, da unha aos saltos ou sapatos, da gravata à calça, ou seja, tudo mais que possa atrair o olhar do público de forma positiva, público este, que via de regra é hiper crítico, ainda mais nos tempos das mídias sociais, onde todos tornaram-se, ainda que, sem capacitação formal: auditores e críticos de todas as artes e temas.

 

Ocorre que, para um ser humano estudar com afinco, há um custo concreto: de tempo, financeiro (cursos, livros, viagens) e forte investimento de energia. Então, quando você desejar convidar alguém que você aprecia ouvir, inicie por uma relação de respeito e considere o tempo que esta pessoa levou para chegar onde está e sobretudo, entenda o motivo da sua admiração por ela.

 

Século XXI, 2019, inteligência artificial, distâncias encurtadas, autonomia, democracia, tudo isso não impede das contas (energia, água, condomínio, combustível, netflix, TV a cabo para quem aprecia, livros físicos ou Ebooks, roupas, planos de saúde, manutenção do seu lar, alimento, etc, etc, etc) continuarem chegando, portanto, os trabalhos precisam ser remunerados. Do contrário, estamos recriando a atmosfera da colonização, onde a primazia da amizade garantia espaços, participações sociais e “favores”. Pensem nisso antes de dizer: “mas…não temos verba para esta ação!”

Hello 2019

Nossas vidas tem um ponto final. Fato! Nestes 20.075 dias de jornada realizei muitos desejos, sonhos, projetos, planos, delineando um legado, influenciando pessoas. Refletindo sobre o que fiz, a qualidade com que fiz e os resultados, ainda não me dou por satisfeita.
Aqueci, no meu sentir, durante 2018, uma nova virada e agora para preparar o nascimento da minha velhice. Eu a desejo com propósito, trabalhosa, alegre, sólida e saudável.
Para tanto a primeira providência foi viver perto de um mar, aberto, de verdade. Ver a obra divina todos os dias e bem de perto. Permitir diariamente meu corpo ser envolvido e acariciado como se ainda estivesse no útero.  Ouvir o som das ondas e permitir que meus pés sejam massageados pela areia fofa.
É chegada a hora. 29/12. O tempo urge! Faltam dois dias apenas.
Hora da mudança…de recanto, de vizinhança, do conforto do bairro conhecido por 18 anos. Dos fornecedores, da proximidade da UFES, do aeroporto, do lugar de culto e amizades.
Horas desmontando e horas carregando, descarregando, elevador que para, aqui e acolá, atrasos,  reclamações e enfim, aterrissamos no novo endereço.
Apesar de todos os obstáculos, o plano além de comprido, foi cumprido. 2019 e o mar aqui. Há um palmo do meu olhar que se encontra, ao invés de se perder, com o horizonte.
Projetos? Inúmeros. Mas…em.silêncio.  É bom divulgar quando já estão concretizados. Igual a gravidez para os antigos. Melhor divulgar após 90 dias.
Que nós próximos 365 dias POSSAMOS realizar planos,  deixando nossa alma plena de contentamento. Que venha 2019.

Ciao 2018

Doze meses, trezentos e sessenta e cinco dias, chegando o encerramento de mais um ciclo. A primeira coisa que me ocorre, é que tive saúde para viver um dia de cada vez, e por isso me alegro pois saúde é riqueza pura.

Embora muitos sintam respostas não  tão aprazíveis no corpo dado o volume de atividades, complexidade das responsabilidades e altíssima exigência a que se impõem, visando desempenho excelente.

O fato é que o tempo passa, por mais que tenhamos a sensação de controlá-lo, o tempo nos deixa a ver navios, pássaros, aviões e planos não realizados. Inúmeras são as razões, motivos, desculpas: postergação, auto-engano, auto boicote, sabotagem, distrações e desconexões conosco.

A famosa parada para ler nosso plano de vôo do ano que se despede, traz alegrias para alguns e frustrações para outros que constatam como se distanciaram dos seus planos por pequenas distrações, as quais, pareciam totalmente inofensivas. Sem perceber seguimos em uma direção que não é a que escolhemos, tampouco a que gostaríamos.

A sensação de conquistar, superar, alcançar, atingir o alvo é como sentir o afago da brisa na face, um abraço afetuoso, um sorriso cúmplice quando chegamos em um lugar onde o “estranho” reina.

Por isso é tão importante estabelecermos metas alcançáveis, superáveis,  conquistáveis se ficar melhor e mais claro. Fazer uso das nossas forças, do nosso potencial, do que já temos, torna possível, viável nossa jornada.

Mas, temos um hábito irracional de buscar de formas mais impensáveis, a realização dos nossos planos e projetos. Seria essa conduta, um padrão apreendido, assimilado para justificar o que, porque? Há que se fazer a dor resplandecer, o sacrifício existir? Será mesmo?

Observo algumas vidas que passaram e se mantiveram por mais de quinze anos ao alcance do meu olhar e sentir. Tais vidas me proporcionaram imenso contentamento, pois acompanhei a dedicação, a paz com que algumas pessoas terminaram seus estudos, se relacionavam com a família, estruturaram relacionamentos com vínculos sólidos, constituíram suas famílias e mantiveram suas amizades do Ensino médio. Cada passo, avanço de forma plácida.

Outros sujeitos se desgovernam tanto, se envolvem com pessoas que as distanciam dos seus objetivos,  participam de cursos que não aplicam, mentem para si mesmos, acreditando e sem perceber que suas atitudes os/as levam para lado contrário do seu projeto de vida, do seu propósito.

E o que fazer? Nada complexo, mas requer um esforço extra, além de muita atenção. 1) Definir claramente onde quer chegar; 2) Estabelecer rotinas e fazeres que pouco a pouco o/a leve na direção onde quer chegar; 3) Ter a máxima atenção e pensar antes de concretizar decisões, fazer escolhas; 4) E o mais importante: saber dizer não, priorizando a si próprio.

Difícil? Sim…Sem dúvida. Porém, cada um de nós, devemos pensar em nós próprios, fazer o melhor para nossas vidas e aí sim, o milagre de Natal ou qualquer outro, acontece. Para cuidarmos de outras vidas, é essencial sabermos cuidar das nossas vidas de forma íntegra, com responsabilidade, sobriedade e pragmatismo.

Que esta última semana cada um de nós possamos estimar no máximo três objetivos a serem alcançados, dentro do que sabemos ser nossas forças. Uma dica: seja realista (buscar olhar uma situação de várias perspectivas, considerando o que seja fatos e não inferências, achismos ou inferências). Qual peixe você quer pescar em 2019?

 

FOCO versus DISTRAÇÕES

Texto elaborador para o Jornal A TRIBUNA 11/2018 – Demandante: Kayque Fabiano – kayquenicolau@hotmail.com

Foco e distrações. Hoje mais que nunca, pensamos em uma forma eficaz de como mitigar esse problema. Na década de 1980 o Brasil, alguns de nós cidadãos tivemos acesso à possibilidade de acessarmos um volume significativo de informações e apenas na ponta dos nossos dedos.  A princípio, o encantamento sobreveio e hoje temos tantas direções, tantos estímulos, que perdemos o rumo.

Nas estradas, nos transportes, nos supermercados, feiras, pais passeando no calçadão com os filhos, o uso do celular  ilimitado, debilita e cria situações de altíssimo risco para nossa segurança e vida.

Sou professora e lamento quando vejo um graduando absorto no WhatsApp, Face ou outro canal de comunicação qualquer. Pontuo sempre em sala de aula que a Física deixa claro que: o corpo ocupa um espaço, um único espaço, portanto não temos como estar vivenciando duas, três experiências ao mesmo tempo. Dessa forma quando se está em sala de aula, estudando, depois de ter estabelecido um objetivo que é graduar; passear pelos inúmeros grupos que demandam cumprimentos, pequenos vídeos, últimas fofocas, notícias, me parece incongruente.

Pesquisas confirmaram que o hábito exacerbado de acessar redes sociais, torna-se vício sim.

Quando o sujeito não consegue gerenciar a contumaz vontade de passear pelas redes sociais e precisa estudar, a única saída e mais salutar é de fato desconectar-se, criar horários e, na minha visão, sobretudo, priorizar-se. Sim, isso mesmo, priorizar-se. Dar a si e aos seus objetivos importância, relevância e de novo FOCO, um aspecto, inclusive tratado na Psicologia Positiva, um movimento recente no âmbito da Psicologia que destaca e busca enfatizar os aspectos saudáveis do sujeito.

A sensação dos candidatos de estarem “perdendo alguma coisa” ou “por fora do que está acontecendo”, de fato é por previamente já se sentirem excluídos, acreditando que precisam se esforçar para serem vistos todo o tempo. Seguem o ditado do senso comum: “quem não é visto, não é lembrado”. Imaginem uma pessoa que se magoa por não ter recebido LIKES. Causa estranheza esta condição de afastamento de si mesmo, de fragilidade identitária e desprezo pela sua existência.

As tecnologias vieram para encurtar distâncias, facilitar acesso às tantas informações e possibilidades, mas de novo para que a utilizamos? Para nada. Tenho alunos que me perguntam coisas que, acessando o dicionário PRIBERAM conseguiriam descobrir, mas não. Os dedinhos não funcionam para tal trabalho hercúleo. Mas para saber onde vende o brinco que fulana da TV usa, aí é rápido como flash.

Penso que cabe a pessoa avaliar até que ponto consegue gerenciar, e se assumir sua fragilidade nesse sentido, a escolha é afastar o celular e estabelecer um período de tempo para dedicar totalmente aos estudos, visando sempre a construção da sua profissão ou condição profissional.

Para fazer GOL, precisamos nos livrar dos dribles e obstáculos que vem na nossa direção, assim é quando desejamos alcançar uma condição diferente da atual. Avante e adiante.

Ser escravo de qualquer que seja o “hábito excessivo”, nos distancia dos nossos mais importantes objetivos.

Tempo, o que fiz, com e para ele?

Estava convicta de que o último post havia sido ´publicado em torno de Junho e Julho e eis-me aqui, assustada…surpresa e exagerando mesmo: horrorizadaaaaaaa.

Cinco, quase seis meses passaram e nada compartilhei. Como ser escritora sem escrever? Impossível!

Outra pergunta importante seria: é fato que não haveriam palavras significativas ou meramente cotidianas neste espaço de tempo?

Definitivamente simmmmm. Muitos eventos, olhares, energia investida, surpresas, frustrações, distanciamentos, aproximações, ganhos, perdas, sorrisos e lágrimas, Tudo muito intenso e denso, a ponto de extinguir toda a vontade de escrever. Uai, mas não seria exatamente o contrário? Sim, óbvio.

E o que aconteceu, para o que deveria ter acontecido, não acontecer?

Priorização equivocada? Ausência de tempo? Muitas prioridades? As questões elencadas não satisfazem, tampouco justificam a questão mor.

Ocorre que existe algo, chamado esquecimento (não foi o caso), e outra denominada preguiça (também não foi o caso), mas a importabilidade (palavra nova, aproveitando a onda d@s “lidade” a saber: sustentabilidade, alterabilidade e assim por diante…). A habilidade de dar importância ao que tenho como fragmento, ou melhor perspectiva de uma vida profissional, uma caminhada, trajetória, percurso (pura sinonímia).

De agosto a outubro, enquanto professora – sete disciplinas para lecionar às terças até sextas a noite; quintas e sextas pela manhã e mais preparo destas aulas, estudos, trabalhos, lançamentos de notas e faltas. Enquanto aluna – cinco disciplinas para ler, preparar seminários em observância ao projeto de doutorado.

Consultório as terças e sábados, palestras, treinamentos e consultorias realizados e em processo. Ah…e as participações (análises, palestras, cursos, seminários, colóquios) para reciclagem contínua, muito importante para o currículo Lattes, sobretudo neste momento de pontuação e créditos.

Além dos papéis profissionais acima mencionados, temos ainda o papel da mulher cidadã, mãe, esposa, amiga, filha, sobrinha, colega de turma.

Este post é uma ação muquerelante? (nomenclatura apresentada à mim pela Cristina Santos quando juntas atuávamos na Escola de Governo). Um mixto de murmúrio, queixa, reclamação e lamúria?

Não, definitivamente não. Esta postura não faz parte do meu modus operandi (modo de viver e operar). Mas sim uma constatação que faltando atenção ao FOCO, ao objetivo maior e que pode ser fatiado em pequenas porções e bocados, nos colocamos em uma situação de ampla vulnerabilidade e automatismo para com nossas vidas.

E é isso que importa, aplicar a importabilidade (não no sentido de portabilidade de conta telefônica, conta bancária, etc…), mas de dar importância ao que  de fato tem importância.

Desta forma posso instituir uma rasa análise: investi imensa energia em algumas ações que no momento não se mostraram frutíferas. Mergulhando mais na intenção das sucessivas ações não exitosas (alcance do objetivo), observo que me situei de forma esquiva e fugindo de situações que não apreciaria confrontar sem antes preparar-me par as consequências.

Neste sentido o postergar, tornou-se uma estratégia eficiente de ajustamento e adaptação social, frente aos temas que vinha entrando em linha, em contato.

Convido portanto, cada um de vocês a investigar nas suas intenções e ações os motivos pelos quais buscam quais ou tais caminhos.

Ótima segunda quinzena de outubro.agenda-lotada-funil-de-vendas-coach

Geração papel – botox ou ambas?

Conhecida pela forma “dura” de ser. Por inúmeras vezes fui e ainda sou percebida como pessoa “dura”. De fato, mais jovem, minha expressão era cortante. Não media e nem pesava o peso das minhas expressões, palavras ou atitudes. No senso comum esta conduta representava a não preocupação com o sentimento alheio. Nos dias atuais, considero precisa, firme, resolutiva.

As palavras saiam do meu cérebro para o ambiente sem filtro algum. Eram lançadas frente ao susto e indignação de quem as ouvia. Sou fruto da geração que professor respeitava mas exigia dos seus alunos a fazerem sempre melhor, que tirar notas boas eram minha obrigação; acordar cedo, arrumar cama, lavar pratos, varrer casa, tirar teias de aranha dos cantos dos cômodos, lavar banheiro, lavar roupas, além de ser educada, gentil e prestativa com os mais velhos eram atos considerados naturais de se exigir de todo e qualquer jovem.

Me pergunto, quem não sobreviveu a essa condição? Na contemporaneidade observo absorta, a comunicação ao alcance da ponta dos dedos e ainda assim jovens perdidos sem saber qual a direção tomar nas suas vidas; a liberdade de assimilar a orientação de gênero e concomitante um imenso sofrimento para apreender no seu cotidiano tal orientação; a liberdade de se desonerar de uniformes e tudo que ponha em risco sua singularidade e ainda assim a  obsessiva busca em seguir padrões estabelecidos pelas suas tribos e ainda por outras culturas…

Vendo a vida por meio de uma lente de celular é a forma mais contemporânea de  contemplar o entorno. Interessante, chocante e  assustador. Este é um ensaio brutal para vivermos sem conexão com nossa essência. E estamos indo bem. Correspondendo satisfatoriamente a quem possa interessar.

Em pleno século XXI, no Brasil, palco de tantas lutas, sofrimentos, opressão, jugo além de sucessivos roubos contra a Nação, não podemos, sob pena de forte acusação sermos precisos, objetivos e diretos. Uma frase precisa vir recheada de poréns, contudos, entretantos para não ofender, matar a alma e desestruturar o interlocutor, seja nas famílias, grupos de trabalhos acadêmicos ou mesmos nas empresas que desejam faturar mais de 90 milhões.

Imaginem quão paradoxal é, viver combativamemente em busca de resultados e ao mesmo tempo docilmente para não ofender, mesmo que seja com sua alegria e realizações, o outro que não consegue sair do lugar?

Que geração é essa que não aguenta ouvir o detalhamento das ações que protagonizou, muitas delas, de uma incrível miopia, falta de leitura do contexto, ausência de discernimento e infantilismo?

Em treinamentos e palestras que realizo, destaco a importância de nos apropriarmos dos fatos, fazendo uma leitura precisa do ocorrido além de “malhar – fortalecer” nossas respostas emocionais e reagir de acordo com nossa idade cronológica que deve, na pior das hipóteses, concordar com nossa idade emocional e situação funcional.

À criança e ao idoso é compreensível e até permitido desorientação, ausência de foco e equilíbrio, pavor de ficar sozinho e o sentimento de incapacidade para realizar grandes façanhas, pela condição física, mental e as vezes financeira, e ainda assim, eles nos surpreendem e realizam continuamente, Se superam mesmo.

Os adolescentes de hoje chegam a alcançar a quarta década de suas vidas, preservando esta condição e para alcançarem a condição de adultos nadam, nadam e literalmente bóiam, desperiodizados da sua cronologia.

Geração papel por se rasgarem frente a qualquer obstáculo ou vento mais forte e geração botox por terem a capacidade de imprimirem nas suas faces o sorriso mais primoroso, mesmo frente a eventos tristes, nocivos, para posts nas redes sociais.

Verdade ou mentira; fato ou inferência; confronto ou recuo; feedback ou dissimulaback? Como entender qual ferramenta usar, quando e com quem? Observar é condição sinequanon para termos estas respostas.

Perceber se o adulto é adulto e fortificado para o que a vida apresenta requer olhar e silêncio. Estou convicta de que a verdade dá menos trabalho, a resolutividade é menos desgastante que jogos, articulações e construções ilusórias ou mesmo a projeção das responsabilidades por mazelas e desencontros no outro.

Assumir o que se faz de aceitável ou não é libertador. Aprovações e reprovações, amores e desamores, harmonia e distanciamento depende de cada um de nós ou um consenso entre as partes que se querem manter apartadas.

É assim, simples. Duro ouvir, pois é o fato. É bem confortável, dizer que não aconteceu pois não era para acontecer. No entanto, ao fazermos uma acurada análise, podemos notar, se desejarmos, o que faltou, no que não caprichamos ou investimos de forma adequada.

Ótima reflexão!

 

 

 

Aos regidos por Marte…

Iluminados, alegres, valentes, bravos…metidos até a tampa do cérebro nos sonhos que são inúmeros. Repletos de planos: A, B, C, D…até Z.

Movimentam o espaço onde chegam, fazem todos se deslocarem para cá, para lá. Dá pitaco aqui, ali, acolá. Quem suporta?

No meu universo tenho o privilégio de ter uma tia, chamada Luíza, absolutamente intragável de alegre, bonita, luminosa, com corpinho de 15 e sorriso dos felizes. Quando a vi triste? Algumas vezes, mas ela jamais aceitou de bom grado ou admitiu. Enxergava pela sombra dos olhos, pela profundidade das olheiras, mas jamais pelos seus lábios que teimavam, nestas ocasiões, sorrir escancaradamente.

No aniversário dela, aos 25 de março junto ao de tantas outras pessoas que tenho profundo carinho, tantos poderiam ser o presente, mas para essa jovem regida por Marte busquei na história dela, algo que não a vi ter.

As minhas memórias trazem imagens: eu bebê, ela jovenzinha de cabelos amarrados em um rabo de cavalo, com pernas cruzadas na altura da panturrilha, assentada no braço da cadeira.

Um aparte para destacar a riqueza do nosso idioma tão cheio de símbolos, palavras dúbias e metáforas: amarrados, rabo de cavalo, cruzadas, braços de cadeiras…fascinante!

Mas, voltando à minha tia, poderia ser uma viagem à Europa, um apartamento, uma bicicleta modelo 1960 ou o anel de formatura ouro com ametista pois logo, logo ela graduará em Pedagogia. Pensei, repensei e decidi por algo inusitado: uma boneca de pano Frida Kahlo (feita por Bárbara Borges de Porto Alegre, uma filha que a vida me concedeu pelas mãos de Deus).

Voltando a boneca estilosa e cheia de personalidade no olhar, tal qual Frida ou minha tia que dribla os eventos pesados da vida com ironia e sorrisos.

Desde pirralha, ao visitar a casa de recém casada da tia Luíza,  no Pontal, inebriava-me com o cheiro das iguarias e me deleitava com sabores únicos. Neste lugar jamais vi nenhuma menção a sua infância e à medida que crescia em idade (pois em tamanho não avancei muito), me perguntava como havia sido a infância da tia Lulu (Maria Luíza)? Os vestígios, indícios, pistas nada me diziam.

E eu como lunar em Marte, intrometida mesmo, compreendi que uma boneca de pano seria um presente representativo da infância não vivida, ou vivida focada nas responsabilidades de aprender, entender, abdicar, adaptar-se à saudade, a falta do colo materno, do convívio com os irmãos e irmãs, a pequena de dentes grandes que ansiava fazer parte importante do universo de onde ela tinha sido retirada dos 7 aos 12 anos. A psicologia diria que fase essencial para o delineamento das emoções e sentimentos. Ela cortou, alinhavou e costurou do jeito que era possível e ainda hoje arremata e amealha frutos desta escolha.

Ela tem superado com valentia os obstáculos externos e sobretudo os internos, os que nos amarram e puxam até o fundo do nosso ser. Penso que a complexidade está em enfrentar tais fantasmas, os que se escondem no fundo da nossa alma…tão amedrontadores, ameaçadores e envolventes. Tão envolventes que levam inúmeras pessoas ao precipício do suicídio.

Não os regidos em Marte, pois estes são briguentos, irônicos, depreendem energia para cada uma das suas batalhas.

Frida, Aírton Sena que aniversaria hoje (1/04) e Luíza não adotaram nem adotam postura diferente. Enfrentam, rasgam seus sonhos nos ouvidos dos outros e quem quiser de bom grado cooperar, que cooperem, problema deles (as). Seguem adiante com o olhar manso, profundo e confrontativo. Mostrando que a pista tem pontos de ultrapassagem sim senhor, como Sena fez, contrariando especialistas várias vezes.

Vivem o calor e a luz do sol, o fazer com alegria, profundidade e de forma marota, como toda boa criança que leva um não dos pais ao encostar o dedinho na tomada elétrica e quando os pais o encaram, vagarosamente levam o dedinho na direção da tomada para se divertirem com a agonia dos pais.

Regidos por Marte…pela vida, pela luz, pela coragem e ousadia. Estes são Frida, Sena e minha amada tia Luíza.